janeiro 05, 2004

Os triunfos da guerra

É de crer que Monohla Dargis faça já parte da lista negra do pessoal de Hollywood. Pelo menos, a avaliar pelo texto hoje publicado no Público no qual a escriba do Los Angeles Times desanca forte e feio os «falsos mundos» criados por aquela poderosíssima indústria da Califórnia.


Dargis faz uma irónica ligação entre os sarilhos guerreiros em que os States andam metidos, na vida real, e a produção cinematográfica virada para os filmes de guerra, na ficção do celulóide. E tem passagens deliciosas de corrosão.


Leia-se esta: «Hollywood continua a fugir do mundo real e reconhecível - o lugar onde as pessoas trabalham, pagam impostos, formam famílias e conseguem sobreviver sem fogões Viking e sem BMW - em direcção a mundos falsos. A fuga toma várias formas e atravessa géneros, e esta temporada expressa-se através de violências periódicas e estados de guerra.»


Depois deste parágrafo que se segue, Dargis deixa definitivamente de entrar de borla nas salas de cinema dos grandes estúdios: «Hollywood tem estado sempre no negócio de venda de belas mentiras. Tal não faz de filmes como "Master & Commander" nada mais do que entretenimentos satisfatórios, mas é discutível se cenas bem realizadas, ou belas estrelas, realmente tornam essas mentiras mais do que saborosas. Os filmes têm uma forma estranha de oferecer as suas próprias verdades.»


E termina em grande: «O facto de a complexidade ser difícil de vender no mercado global explica porque é que Hollywood tem fugido da realidade e porque é que filmes como "Mystic River" são cada vez mais raros.»