julho 30, 2007

Ingmar Bergman: 1918-2007


Quando menos se espera, surge ao lado do Cavaleiro uma figura que mais parece um monge. Apresenta-se como sendo a Morte que veio buscá-lo. Tentando ganhar tempo, ele propõe-lhe uma partida de xadrez que decidirá se parte ou não com Ela. A Morte concorda, por saber que, no final, ganha sempre.

julho 27, 2007

Misha Gordin, fotografia conceptual

«Criar uma ideia e transformá-la em realidade, é o processo essencial da fotografia conceptual»







julho 23, 2007

Fellini conta Fellini

«A mentira é a alma da arte do espectáculo, e eu adoro o espectáculo.»

«Reivindico o direito de me contradizer. Não quero estar privado do direito de dizer tolices e peço humildemente licença para me enganar algumas vezes.»

«O meu sistema é não ter sistema: vou para uma história para descobrir o que ela tem para me contar.»

«Luto para obter as condições de que necessito para trabalhar em paz. Isto é, provavelmente, uma consequência directa do meu egoísmo: se não posso fazer o que quero, prefiro não fazer nada.»

«Creio que seria uma boa ideia os críticos verem filmes como se fossem espectadores normais.»

Federico Fellini, in Fellini conta Fellini

julho 22, 2007

O Casanova de Fellini

O cinema de Fellini é maior que o próprio cinema. Embora grandiloquente e algo exagerada, é a única frase decente que me ocorre depois de ver O Casanova de Federico Fellini.

Bem vistas as coisas, para qualquer cinéfilo que se preze, Fellini, que dizia que seria uma boa ideia os críticos verem os filmes como se fossem espectadores normais, é um chato. Põe a fasquia de tal modo elevada que nos deixa com a impressão de que todos os filmes que vimos nas últimas 37 semanas não passam de fancaria cinéfila. Perda de tempo. Desperdício visual. Penúria estética.

Donde, paradoxalmente, é preciso resistir aos filmes do Fellini. Lutar contra a vontade de os ver. Pelo menos, durante as próximas 37 semanas. Quanto mais não seja porque nos deixam à beira do abismo de atirar com o cartão de sócio da Blockbuster pela janela fora.

«Casanova é um veneziano, libertino, cuja vida é uma sequência de aventuras amorosas. Após um caso com uma freira, é condenado e preso. Consegue depois fugir da prisão e percorre várias cortes e cidades europeias, coleccionando seduções, paixões e orgias sexuais. A mulher gigante numa feira em Londres, uma cientista na Suíça, uma mulher mecânica em Gotemburgo, por todas se apaixona, até acabar os dias como bibliotecário na Boémia. Este filme é baseado livremente na obra autobiográfica do próprio Giacomo Casanova intitulada “A história da minha vida”.»

julho 17, 2007

Mishima não esquece

Este acabou de chegar. Em vinil, gravação excelente, preço de saldo. É considerada uma das melhores bandas sonoras criadas por Philip Glass, que tocou para nós, há pouco tempo, no Theatro Circo.

Desta vez, Glass compôs para um grande filme, esquecido pelas editoras portuguesas de DVD: Mishima, de Paul Schrader. O álbum é enriquecido pelas cordas do famoso Kronos Quartet.



Mishima (1985), produzido por Francis Ford Coppola e George Lucas, conta a história da vida, trágica, de um dos maiores escritores japoneses do século XX, Yukio Mishima.

julho 13, 2007

Laurie Anderson na minha pátria

Laurie Anderson é uma sessentona fascinante, única, inimitável. Artista visual, compositora, poeta, fotógrafa, realizadora, perita em electrónica, vocalista e instrumentista, experimentalista, excelente contadora de histórias, dona de um sentido de humor irresistível e de um sorriso adoravelmente matreiro, esta nova-iorquina anda há quase trinta anos a explorar os caminhos da tecnologia na criação musical. Excertos do álbum, belíssimo, Life on a String:

O seu primeiro álbum, Big Science (1982), faz agora 25 anos e, por isso, acaba de ser lançada uma edição comemorativa. Trata-se de um álbum intemporal. Tem um quarto de século como podia ter 25 dias. É de lá que sai este clássico absoluto, O Superman:

Hoje à noite, Laurie leva ao Theatro Circo, Braga, o espectáculo Homeland, título do seu próximo álbum. Algures entre um poema épico, uma peça e um concerto multimédia, Homeland fala «da cultura dos automóveis todo-o-terreno, dos bloggers, da solidão e da vigilância através de circuitos de televisão, usando as linguagens sintéticas da tecnologia e a linguagem sensual da escrita de canções e da poesia para olhar para os reality shows, o totalitarismo de estilo americano, o sentimentalismo, as imagens fugazes do império.»

Adivinhem quem não vai faltar.

julho 10, 2007

Fotograma: The Weeping Meadow

Fotografia de Andreas Sinanos para o filme The Weeping Meadow, de Theo Angelopoulos.

julho 09, 2007

Como havemos de viver?

Quando um livro, logo a abrir, nos faz perguntas certeiras e pertinentes, só há uma coisa a fazer: comprá-lo logo e lê-lo sem demora:

«Há ainda alguma coisa pela qual viver? Haverá algo a que valha a pena dedicarmo-nos, além do dinheiro, do amor e da atenção à nossa família? Falar de «algo pelo qual viver» tem um certo travo vagamente religioso, mas muitas pessoas que não são absolutamente nada religiosas têm uma sensação incómoda de poderem estar a deixar escapar qualquer coisa básica que conferiria às suas vidas uma importância que, de momento, lhes escapa.»

Peter Singer, Como havemos de viver?: A ética numa época de individualismo


julho 04, 2007

Ismaël Lo no ouvido de Almodóvar

Pedro Almodóvar tem um ouvido muito certeiro na escolha das músicas para os seus filmes. Numa das suas obras maiores, Tudo sobre a minha mãe, há um pedaço em que o realizador espanhol nos brinda com uma canção soberba do músico senegalês Ismaël Lo (em destaque no post abaixo).

Uma personagem em perda, uma Barcelona que nos aparece iluminada e marginal, o ambiente sonoro perfeito de Tajabone:

Gira-discos: Ismaël Lo, Jammu Africa

julho 01, 2007

A Orchestra do cinema de Vertov

Em 2001, o Porto, ainda longe de apanhar com a catástrofe cultural Rui Rio em cima, foi Capital Europeia da Cultura. No actual Rivoli "Superstar" (Jesus Christ!), dançava gente como Bill T. Jones. A cidade fervilhava de espectáculos e cosmopolitismo, a par de obras e buracos por todo o lado, é verdade. Que saudades...

Um dos espectáculos inesquecíveis aconteceu no Coliseu. A Cinematic Orchestra tocou ao vivo, enquanto numa tela gigante passava o assombroso e espectacular filme O Homem da Câmara de Filmar, do russo Dziga Vertov.

Datada de 1929, esta fita, editada em Portugal pela Costa do Castelo Filmes, é um prodígio de técnicas cinematográficas, "efeitos especiais" e montagem. Um marco incontornável na história do cinema. A Cinematic Orchestra conseguiu criar um ambiente perfeito para a fruição destas imagens. Como se pode constatar neste excerto:


Anos mais tarde, Michael Nyman veio à Casa da Música acompanhar com a sua música o mesmo filme. Mas o espectáculo não resultou tão bem. As paisagens sonoras da Cinematic levam a melhor.