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janeiro 28, 2007

'Mediamorfose' no Travessias

O Travessias está em plena mediamorfose experimental (o Roger Fidler que me perdoe o exagero...). O texto é cada vez mais acompanhado de fotografia e vídeo, graças à ajuda do YouTube, Google Video e quejandos. Portanto, está a transformar-se num híbrido, algures entre o blogue, o fotoblogue e o videoblogue. Experimentemos, pois os tempos, felizmente, estão para isso.

Quando se fala de música ou de cinema, por exemplo, aqueles sites de vídeo têm material fabuloso, recente ou antigo, que pura e simplesmente não "passa" nos nossos canais de televisão. Frank Zappa a gravar em estúdio em 1968? Um excerto do filme Caravaggio, de Derek Jarman? O trailer de Citizen Kane? A Laurie Anderson a contar uma das suas mirabolantes histórias? O Rufus a cantar uma música dos Beatles? O Antony ao vivo num programa de TV em dueto com Boy George? As CocoRosie ao vivo algures nos EUA? Foucault em amena cavaqueira filosófica com Chomsky?

Os canais de televisão tradicionais (generalistas e temáticos, sem excepção) deviam estar mais atentos ao que se está a passar em termos de "televisão" online. Para já, a reacção generalizada parece ser em tudo idêntica à que assistimos em 1995, 1996, quando a Internet começou a instalar-se: desprezo, menorização, desvalorização, etc.. Em geral, os média portugueses estranham muito e entranham pouco. E a muito custo.

setembro 25, 2006

Chostakovitch não é 'fashion'

Se os nossos canais de televisão não estivessem tão embrutecidos como, de facto, estão, seria de esperar que hoje, dia em que se assinala um século sobre o nascimento do compositor russo Dmitri Chostakovitch, considerado um dos maiores compositores do século XX, exibissem algum programa, filme ou concerto a propósito.

A RTP, por exemplo, lá nas catacumbas dos arquivos, ainda deve ter a cópia de um filme, realizado por Tony Palmer, sobre a vida de Chostakovitch. No papel principal, temos um muito convincente Ben Kingsley.

O canal estatal passou esta obra, cujo título original é Testimony, há muitos anos. Ficaram-me da obra boas recordações e uma grande vontade de descobrir a música de Chostakovitch. Não seria a noite de hoje excelente altura para uma reposição?

Qual quê... Temos, depois da meia-noite, E-Ring Centro de Comando, na RTP1, e a história de um elefante, na 2:. Nas privadas, nem, vale a pena falar. As noites estão entregues à bicharada.

Ontem, no Público, um bom trabalho sobre a efeméride. Hoje de tarde, na Antena 2, o destaque devido, e conhecedor, a Dmitri Chostakovitch.


agosto 17, 2006

TV Cabo raso

A TV Cabo está cada vez mais pimba, vergada ao popularucho mais asqueroso, com laivos de esoterismo de pechisbeque. Agora dá antena, ou melhor, cabo, a todo o tipo de vendedores da banha da cobra.

A machadada mais recente foi acabar com o canal GNT, que ainda conservava alguma decência na programação, e substituí-lo por uns apresentadores aprumadinhos de risca ao meio, que só de ver assusta.

Kama Sutra, tarot, cartomancia, misticismo, tudo o que esteja bem longe da razão, é o que está a dar. É sabido que, como dizia outro, Deus morreu e Marx também. Mas convém não exagerar.

Um zapping noctívago pelos canais da TV Cabo é uma experiência deprimente. Não dá nada de jeito. Salva-se um ou outro canal, com a BBC World e o Mezzo à cabeça. E lá se foi, há muito, esse bom luxo de minorias que era o Arte. O dinheiro, como se sabe, não vai com a cara das minorias. E era nisto que Pacheco Pereira devia pensar um pouco antes de defender a ideia absurda de privatizar tudo quanto é canal em Portugal.

Pouco há a esperar. A lógica das audiências lucrativas é implacável. Telespectador é mero número burro para fazer monte. Portanto, o mínimo agora é fazer como o Jesualdo e mudar de clube. Ou então sair para o terraço e contemplar as estrelas de Agosto.

janeiro 25, 2005

Curta e grossa

«A televisão é uma ladra do tempo». Karl Popper.

janeiro 22, 2005

O verdadeiro humorista

Qual Jay Leno qual quê! O verdadeiro humorista da América chama-se Michael Moore e passa hoje, com o seu "show" pertinentemente crítico, divertido e corrosivo, no canal por cabo AXN, às 16 horas.

A televisão dos nossos dias é assim: temos de andar a pescar umas poucas pérolas no meio de toneladas de lama e lixo.

janeiro 14, 2005

As salas dos milhões

Ora, façamos assim uma contabilidade rápida e rudimentar: as cidades do Porto, Gondomar, Maia, Matosinhos e Vila Nova de Gaia têm, juntas, 64 salas principais de cinema. Em 58 delas, estão a ser exibidos filmes norte-americanos. Basta consultar, por exemplo, o cartaz de cinema de hoje do jornal Público. Em Gondomar e Maia, a ocupação de cinema «made in USA» é de 100 por cento!

Agora, no mesmo jornal, uma espreitadela à programação cinematográfica das televisões nacionais. Dos nove filmes previstos para hoje na RTP1, SIC, TVI, Canal Hollywood e Lusomundo Premium, oito são norte-americanos. Salva-se O Nome da Rosa, uma co-produção entre a Alemanha, a França e a Itália...

Ora, se este panorama absolutista, esmagador de um ponto de vista estético, narrativo, cultural, linguístico e até mental, é bom para as cabecinhas que enchem as salas dos shoppings do Grande Porto e se enterram nos sofás televisivos do país, vou ali e venho já.

Ignacio Ramonet escreveu, há alguns anos, um livrinho, por alguns considerado exagerado e algo «conspirativo», em que denunciava precisamente este lamentável estado de coisas, no cinema, na televisão, na publicidade.

Em Propagandas Silenciosas, o director de Le Monde Diplomatique escreve que «a americanização dos nossos espíritos está de tal maneira avançada que denunciá-la, para alguns, parece cada vez mais inaceitável (...) A americanização penetra-nos pelos olhos. Com a temível eficácia de uma propaganda silenciosa.» E ainda: «Muitos cidadãos europeus são uma espécie de “transculturais”, mistos irreconciliáveis, possuindo um espírito americano numa pele de europeu. (...) O cinema, como se sabe, não contribuiu pouco para este estado de coisas.» O livro merece, inteiramente, uma releitura urgente.

Está na altura de gritar bem alto aos ouvidos dos distribuidores e programadores de cinema aquele slogan célebre dos Monty Python: e agora para algo completamente diferente!

Mas há sempre aquele probleminha do dinheiro, não é?...

setembro 27, 2004

TV sem remédio

Chega a ser obsceno o nível a que o jornalismo televisivo estatal desce. Chega a ser deprimente constatar que, em vez de arrepiar caminho a partir de um exercício crítico em relação a si própria, a RTP insista em acompanhar as privadas na descida ao inferno do share vincadamente tablóide.

O telejornal das 20 horas de ontem gastou nada menos que a meia hora inicial com o caso da menina alegadamente assassinada no Algarve. O canal 1 serviu a dose rasca do costume, com as entrevistas aos 'populares' irados e, nalguns casos, a roçar a demência, os directos em directo da cozinha da casa dos alegados assassinos, etc.. Não perder pitada, espremer o 'sangue' até à última gota das audiências. Isto já mete nojo, gente!

O jornalismo televisivo está definitivamente paranóico. Ouça-se jornalistas de TV a falar e quase só se lhes ouve a música do share a sair pela boca fora. É triste, mas hoje em dia é regra, não é excepção. Proprietários (a fonte dos maiores problemas do jornalismo contemporâneo), directores e editores são, naturalmente, os maiores instigadores da luta pelas audiências. Mesmo os melhores, isto é, os mais profissionais, são deixados sem alternativa. Triunfa a regra inelutável do "fazer ou morrer".

Os actuais responsáveis pelo jornalismo da RTP parecem ter metido na cabeça o dogma pimba segundo o qual serviço público é sobretudo dar ao povo aquilo que o povo gosta. De que gosta o povo? Bola (os telejornais abarrotam dela) e sangue. Numa palavra, emoções fortes. É o populismo, versão televisão.

Os estados responsáveis (infelizmente, não é o caso do nosso) deviam fazer com a televisão o mesmo que se faz com o tabaco: obrigar a anunciar, neste caso em prime time, que o consumo de certa televisão provoca o cancro.

junho 07, 2004

RTP1 endireita-se para o torto

Telejornal, RTP1, canal do Estado, domingo, horário nobre, 20 horas. Depois de abrir com uma peça sobre o risco de atentados no Euro 2004, José Rodrigues dos Santos dá entrada a uma série de peças sobre a morte de Ronald Reagan, peças essas que o próprio «pivot», responsável pela informação do canal, devia logo a seguir deitar ao caixote do lixo e deitar-lhe fogo.

Foram para aí uns dez minutos, talvez. Reagan, o homem das «firmes convicções», o «carismático», o «herói», o adorado pelo povo, tudo isto segundo a opinião expressa pelo jornalista de serviço no obituário do antigo presidente dos EUA, um actor de segunda que chegou ao patamar mais alto da nação. Só na América...

O cidadão desarmado, o jovem sem memória, chegaria ao fim de ver esta enfiada de peças com a sensação de que Reagan foi o maior presidente de todos os tempos, uma espécie de imaculado super-herói das massas que, imagine-se, derrubou, com a sua fictícia 'Guerra das Estrelas', o império soviético e o muro de Berlim.

Todas as pessoas que apareceram nas peças a perorar, com excepção de Mário Soares (versão soft), colocaram Reagan no altar da prodigalidade histórica: quatro simples cidadãos anónimos (patrióticos americanos) a garantir ao mundo que Reagan foi o maior, pá, Durão Barroso, Cavaco Silva e... até o insignificante do Paulo Portas apareceu a tecer loas ao grande amigo do Papa e da Thatcher.

Não foi dado a ver ao telespectador uma simples voz dissonante. Um contrapontozinho, como mandam as regras jornalísticas. E nem o jornalista que escreveu os textos se dignou a fazer uma referenciazinha que fosse ao facto de Reagan ter protagonizado o escândalo Irão-Contras, ao facto de ter deixado um défice colossal, o falhanço da quimérica 'Guerra das Estrelas'... nada.

Foi um momento de informação televisiva estatal da pior espécie: acéfala, servil e incompetente.

dezembro 16, 2003

Notas soltas

Excelente o documentário sobre Akira Kurosawa na RTP2. Nesse dia, domingo à tarde, havia passado, em canais diferentes, pela enésima vez, O professor Chanfrado e mais um Arma Mortífera. Enquanto se repetem, ad nauseum, as receitas garantidas de Hollywood, outro cinema, (o cinema?), é remetido à clandestinidade audiovisual. Cada vez mais.

Os filmes de Kurosawa têm uma gramática dificilmente enquadrável na esquizofrenia concorrencial das televisões generalistas, dadas, em preocupante crescendo, ao espectacular, ao grotesco, ao rasca, ao popularucho. Os canais portugueses chafurdam já, em certos horários, ao nível do esgoto. E prometem piorar. O canal 2 ainda lá vai acertando algumas, embora reste saber até quando.

Gravado em bom tempo, na 2, claro, foi tempo de rever, em vídeo, Cão de Palha, de 1949, a primeira longa metragem do grande mestre japonês. No escurinho do preto e branco.

O flamenco, de vez em quando, volta-nos aos ouvidos para ser redescoberto nas profundidades da história das raças que o atravessa. Pela voz deslumbrante de Estrella Morante, por exemplo. Pelo dedilhar tão rápido quanto suave de Vicente Amigo nas cordas da sua guitarra.

Um dia destes, uma boa surpresa. Flamenco com imagens depuradíissimas pelo olhar de Carlos Saura. Numa cassete perdida no meio de tantas outras com filmes gravados por lembrar, sai-nos Flamenco, um filme-homenagem à música da Andaluzia. E lá aparece, entre muitos músicos, bailarinos de gema e cenários de extremo bom gosto, o afamado Joaquín Cortés.

E depois há o texto. A sós com ele. O prazer da leitura, de Proust, recorda-nos que as melhores imagens saem de páginas brancas pintadas com letras.