janeiro 04, 2004

Bem longe do paraíso

O jovem californiano Todd Haynes surpreeende, pela positiva, no seu aparentemente tranquilo filme Longe do Paraíso. Um amargo retrato localizado da América dos intragáveis anos cinquenta, carregada de cargas explosivas de racismo, conservadorismo ridículo e famílias bonitinhas da classe média de anúncio de televisão enfeitadas com laços cintilantes de hipocrisia.

Haynes embrulha a narrativa com as cores fortes e os planos previsíveis dos filmes de Hollywood daquela década, mas fica-se por aí. A dissecação dos podres das personagens é depois feita de uma forma quase crua, arrasando com os estereótipos da família ideal. Ideal, só na fachada. Dentro de portas, o marido, homem de negócios de sucesso, descobre-se homossexual; a esposa, mãe de filhos, dona de casa, luta para manter as aparência de que tudo vai bem, ao mesmo tempo que se desintegra emocionalmente para cair, desamparada, nos braços de um negro.

Por entre uma serenidade algo desarmante, tudo vai mal e acaba mal nesta história. Enfim, como quase sempre acontece na vida real. Um filme agridoce a registar.