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fevereiro 24, 2009

Apontamentos sobre cinema

Greenaway: todos os filmes, exceptuando os que não têm nada para mostrar além do óbvio, deviam ter como extra uma aula sobre o próprio filme. É isso mesmo que Peter Greenaway faz em O Contrato, uma das suas primeiras longas-metragens. O realizador passa em revista momentos-chave da narrativa e desvenda-nos, como se estivesse a descascar por camadas uma cebola, significados imperceptíveis durante um primeiro visionamento.

Fellini: Ginger e Fred é um libelo enternecedor contra a televisão e o que ela produz, com requintada imbecilidade, de pior. "Car-nei-ros" é o que Fred (um Mastroianni maduríssimo na interpretação) queria gritar durante o directo de um daqueles talk shows arrepiantes que a TV vomita. O resto é Fellini. Obrigatório. Sempre.

Oscares: passo.

Denis: primeiro chamamento: Trouble Every Day tem música dos Tindersticks. Alguma desilusão: o filme não está à altura da banda sonora.

Jarmusch: o capitalismo desenfreado tem destes milagres: já se pode comprar o Homem Morto por pouco menos de 2 euros num quiosque. Com direito a Neil Young e tudo.

Coppola: também veio por tuta-e-meia, graças ao Público. Quem apreciou o grande Apocalipse Now estranhará a complexidade, a densidade, a multidimensionalidade, o ambiente quase teatral e algo esquizofrénico de Uma Segunda Juventude. Óptimo. O filme saiu do bolso do próprio realizador e isso nota-se. Fez o filme que quis. Estão lá os grandes temas, baseados num conto de Mircea Eliade: a decadência, a morte, o amor, o sexo, o tempo e o que dele fazemos, o bem, o mal, a consciência. Pode ser um filme complicado para crises de meia-idade.

Benigni: quando a vida ameaça tornar-se um caso muito sério, há pelo menos três realizadores a quem recorrer em vez de ir ao psiquiatra: Woody Allen, Nanni Moretti e Roberto Benigni. Deste, para descontrair, pode-se começar pelo hilariante Johnny Palito. O título é cómico, mas o tema é sério. Benigni interpreta duas personagens: um ingénuo e um mafioso. O filme é inteligente: mostra-nos que em Palermo se pode matar por uma banana.

maio 08, 2008

A Ronda da Noite no escuro de Lisboa

A estreia de um filme de Peter Greenaway devia ser motivo de júbilo e alarde. Mas não é. Bem pelo contrário. A Ronda da Noite estreia hoje e só em... Lisboa. No Porto, cidade-cemitério cinéfilo, nem vê-lo (longe vão os tempos em que podíamos ver filmes do Greenaway na capela de Serralves, imagine-se). E, como se sabe, o cine-pipoca de shopping dos arrabaldes da "capital do norte" devora hoje todas as salas disponíveis.

O principal diário de referência do país também não deu pela estreia. Pelo menos, na edição da "província". Nem uma referência, por pequenita que fosse, no P2. Na edição online, no Cinecartaz, vá lá, temos direito ao resumo do filme:

«O ano 1642 marca uma viragem na vida do famoso pintor holandês Rembrandt, que perde o seu estatuto de respeitada celebridade e se transforma num pobre desacreditado. Perante a insistência da sua mulher grávida, Saskia, Rembrandt aceita pintar a Milícia dos Mosqueteiros de Amesterdão, num retrato de grupo que mais tarde ficará conhecido como "A Ronda da Noite". Rembrandt rapidamente se apercebe que há uma conspiração em marcha e através dessa pintura encomendada está disposto a pôr a nu os conspiradores, construindo a sua acusação sob a forma de um quadro que desvela o lado hipócrita e negro da época de ouro da sociedade holandesa.»

Por isso, subscrevo por inteiro a "petição ao mercado" feita por João Lopes no Sound + Vision a propósito da estreia de A Ronda da Noite:

«A petição é muito simples: 1) - não abandonem comercialmente o filme; 2) - não o estreiem sem promoção; 3) - não o tratem como se estivesse obrigado a comportar-se como um blockbuster...»


Já agora, deixo aqui a minha modesta petição, dirigida às editoras de filmes: coloquem no mercado de DVD, com carácter de urgência, pois já estão muitíssimo atrasadas, algumas das obras marcantes de Greenaway, tais como: Os Livros de Próspero, O Livro de Cabeceira, O Bebé de Macon ou O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela.

fevereiro 24, 2008

Fotograma: Vivian Wu

Vivian Wu fotografada no filme O Livro de Cabeceira, de Peter Greenaway.

julho 28, 2006

Greenaway por ele mesmo

Acaba de ser colocado no mercado, pela Costa do Castelo Filmes, o DVD O ventre de um arquitecto, do realizador britânico Peter Greenaway. O filme é para rever com prazer garantido, mas o DVD traz um brinde cinéfilo fantástico.

Trata-se do documentário O alfabeto e o olho. É uma verdadeira aula de cinema dada pelo próprio Greenaway. O realizador explica a sua concepção de cinema e diz coisas que, para muitos cinéfilos, serão incómodas.

Por exemplo: um operador de câmara devia estudar pintura pelo menos durante três anos antes de alguém lhe passar uma câmara de filmar paras as mãos; os mais de cem anos que a história do cinema leva são constituídos maioritariamente por "textos ilustrados", isto é, filmes em que as imagens se limitam a apoiar a narrativa escrita; o cinema é uma arte boa de mais para ser deixada nas mãos de meros contadores de histórias.

O alfabeto e o olho inspira-se nos "mapas" (elementos, números, letras) que Greenaway usa nos seus filmes, nos quais a inspiração da pintura tem lugar de relevo. E ajuda-nos a ver as imagens em movimento com outro olhar.