março 28, 2006

Volta depressa, Nanni!

Nanni Moretti é, por assim dizer, muito cá de casa. Há muitos anos. O seu Querido Diário rompeu vezes sem conta o nosso pequeno ecrã. E há-de continuar a brilhar. Portanto, um novo filme deste singular realizador italiano é sempre um grande acontecimento.

O senador Michele Bonatesta, da Aliança Nacional (partido de Gianfranco Fini, o segundo maior do governo de coligação liderado pela Força Itália), diz que Il Caimano (O Caimão), último trabalho de Moretti, é «a quintessência do tédio e do ódio a Berlusconi», procurando apenas transformar-se no «emblema da criminalização e demonização do primeiro-ministro». (DN)

Ora, quando um apaniguado dessa espécie de Jardim multimilionário obsceno que é Berlusconi diz isto de um filme, esse filme torna-se obrigatório.

Ritorna subito, Nanni!

março 27, 2006

Este teatro mata a sério

Hoje é Dia Mundial do Teatro. Óptimo dia para assistirmos a mais um acto de uma farsa monumental pejada de actores francamente medíocres:

«O Presidente norte-americano, George W. Bush, informou o primeiro-ministro britânico em 2003 que estava decidido a invadir o Iraque mesmo sem uma resolução da ONU e sem que alguma arma de destruição maciça tivesse sido encontrada, noticiou o New York Times.

Citando um memorando secreto britânico, o jornal refere que o Presidente norte-americano estava certo da inevitabilidade da guerra e deu a conhecer o seu ponto de vista a Tony Blair, num encontro dos dois políticos, na Sala Oval da Casa Branca a 31 de Janeiro de 2003.» (Expresso Online).

Ele há pancadas de Molière que precisavam de ser dadas, não no chão do palco, mas na cabeça dura de certos farsantes.


Travessias na memória:
Pornografia geopolítica
Criminosos de guerra
Mais papista que Bush
Garotada na defesa
Iraque, o desastre
De 1945 ao Iraque

março 20, 2006

Séneca, lucidez com 2000 anos

«E é de facto assim: não é que tenhamos uma vida curta; nós é que a tornamos escassa e não é que ela não nos seja concedida em abundância; nós é que a desperdiçamos.»

«Como começamos de facto a viver apenas quando a vida vai acabar! Somos estúpidos ao esquecer-nos da nossa mortalidade e ao adiar os nossos planos de vida para quando tivermos cinquenta ou sessenta anos, visando começar a viver numa idade a que poucos chegam!»

«Mas aprender a viver exige uma vida inteira e, o que te pode surpreender ainda mais, é necessária uma vida inteira para aprender a morrer.»

Séneca, Da Brevidade da Vida

março 09, 2006

Sampaio era outra música

Ontem, ao fim da tarde, a Antena 2 recuperou uma entrevista feita a Jorge Sampaio. O ex-presidente trouxera discos lá de casa para partilhar com os ouvintes da melhor rádio de Portugal: Mozart, Schumann, Beethoven, John Coltrane, Leonard Cohen...

A partir de hoje, o Palácio de Belém fica, por assim dizer, melodicamente mais pobre.

março 08, 2006

Frase idiota do ano

Pedro Rolo Duarte escreveu hoje, no DN, a propósito de um debate televisivo sobre a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, aquela que é uma forte candidata a frase mais idiota do ano: «Pensei no que os anos me ensinaram: no jornalismo, quem não sabe fazer, ensina; e quem não sabe fazer nem ensinar, faz pareceres ou é crítico.»

março 02, 2006

Jornalismo e cinema: Clooney e Boorman

Este é dos tais filmes que dá para recomendar, sobretudo a jornalistas, estudantes de comunicação e docentes nesta área, de olhos fechados, isto é, sem ainda se ter visto: Boa Noite, e Boa Sorte, sob a batuta de George Clooney, teve uma estreia auspiciosa em Veneza. Estreia hoje nas salas portuguesas.

Eis a sinopse, retirada do Cinecartaz do Público.pt: «A acção de "Boa Noite, e Boa Sorte" decorre nos primórdios do jornalismo televisivo, na América dos anos 50. O filme retrata o conflito verídico entre Edward R. Murrow, um "pivot" pioneiro na América dos anos 50, e o Senador Joseph McCarthy e a Comissão do Senado das Actividades Anti-Americanas. Graças à sua vontade de esclarecer o público, o inovador Murrow e a sua dedicada equipa da CBS desafiam pressões da empresa e dos patrocinadores ao analisar as mentiras e as tácticas rasteiras de McCarthy durante a sua "caça às bruxas" aos comunistas.»

Já agora, para quem se interessa pela temática dos media e do jornalismo, recomendo ainda dois filmes que chegaram recentemente ao mercado de DVD de aluguer: Crónicas, uma produção México/Equador, realizada por Sebastián Cordero, e o horripilantemente titulado Um Amor em África, cujo título no original é bem mais decente, In My Country, realizado por John Boorman.

O que poderá ver no interessante Crónicas: «O programa de televisão “Uma hora com a Verdade” é transmitido todas as noites de Miami para toda a América Latina, com as histórias sensacionalistas mais fortes que se podem encontrar. Para um desses programas, o apresentador Manolo Bonilla (John Leguizamo) voa para o Equador, na companhia da produtora Marisa (Leonor Watling) e o operador de imagem Ivan (José Maria Yazpik), seguindo a pista de um violador e assassino de crianças, conhecido como “O Monstro de Babahoyo”. A morte acidental de uma criança leva os habitantes de uma pequena povoação a quase linchar Vinicio Cepeda (Damián Alcázar), um humilde vendedor de Bíblias. A intervenção de Manolo salva a vida do homem. É uma grande história para o programa. Vinicio é mesmo encarcerado, por homicídio involuntário, e oferece a Manolo informações sobre o “Monstro”, a troco de uma reportagem sobre a sua injusta situação. Manolo aceita, atraído pelo lado obscuro que pressente em Vinicio, e começa a quebrar todas as regras, decidido a ser ele o herói que detém o assassino com as suas próprias mãos.» (PT Gate)

E em Um Amor em África, um filme mediano, onde Juliette Binoche enche, uma vez mais, todo o ecrã: «Langston Whitfield (Samuel L. Jackson) é um jornalista do Washington Post, enviado à Africa do Sul para cobrir as sessões da Comissão da Verdade e Reconciliação. Ele está apreensivo em relação à viagem, tal como está céptico relativamente ao processo de reconciliação, sentindo que é apenas uma forma de os perpetradores escaparem ao castigo. Anna Malan (Juliette Binoche) é uma poetisa africana que cobre as sessões para a rádio estatal sul africana e NPR nos Estados Unidos. Anna é uma entusiasta do processo, tem um grande respeito pelas tradições africanas nativas e tem grandes esperanças relativamente ao seu país. Como membros da imprenssa internacional, Anna e Langston encontram-se e estão instantaneamente em desacordo relativamente às suas perspectivas opostas das sessões. Mas, com o tempo, a experiência compartilhada de ouvir os testemunhos comoventes e dolorosos aproxima-os cada vez mais.» (PTGate)