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outubro 17, 2007

Os poemas do deserto de Stephan Micus

Stephan Micus, compositor e multi-instrumentista alemão, é um nómada da música. Começou muito cedo a viajar pelo mundo inteiro e a estudar técnicas musicais antigas, sobretudo na Índia e no Japão.

Coleccionou instrumentos étnicos pouco conhecidos no Ocidente e com eles, praticamente sozinho em estúdio, produz sonoridades estranhas e absorventes, que tem registadas em discos gravados para a imparável editora de Manfred Eicher, a ECM.

O álbum Desert Poems (2001) é particularmente fascinante. A começar pela capa, belíssima. Micus pega em instrumentos étnicos (uma harpa da África Ocidental, um piano tanzaniano ou um "tambor falante" do Gana, entre outros) e, com recurso a técnicas de estúdio, constrói um edifício sonoro simultaneamente amplo e minimalista.

Em tempos de saturação mediática musical "mainstream", álbuns transculturais como Desert Poems são um verdadeiro oásis. Quase tão bom como o silêncio puro.

agosto 04, 2007

Os sons de Marlui Miranda

Marlui Miranda é outro dos tesouros musicais do Brasil pouco conhecidos em Portugal.

Marlui nasceu em Fortaleza e foi criada em Brasília. Mudou para o Rio de Janeiro na década de 70 e estudou guitarra clássica. Tocou com Egberto Gismonti e Milton Nascimento, entre outros. Compôs bandas sonoras para cinema e teatro. As suas músicas já foram gravadas por nomes como Ney Matogrosso.

A partir da década de 70, passou a pesquisar e estudar a música dos índios brasileiros. Entretanto, realizou um projecto de preservação e recriação da música indígena da Amazónia brasileira.

Um dos álbuns que ilustra esta antiga paixão de Marlui é Ihu, Todos os Sons, com canções de povos indígenas, como os Tupari, Yanomami, Kayapó e Tembé. Neste belíssimo álbum, que ganhou um German Phono Academy Award, participam os Uakti e o actual ministro da Cultura do Brasil. Nele podemos ouvir este Araruna:

Pela voz, pelo talento, pela figura, pela curiosidade etnográfica, Marlui Miranda merecia mais atenção por parte daqueles ouvidos lusos que não se resignam a ficar limitados às funestas e enjoativas "playlists" das nossas comercialeiras rádios e afuniladérrimas televisões.

maio 20, 2007

Lila Downs

Lila Downs terá atingido o pico da visibilidade mundial quando apareceu, ao lado de Caetano Veloso, a cantar na cerimónia dos Oscars um tema da premiada banda sonora do filme Frida.

Mas nem assim, e em particular em Portugal, lhe parecem dar o devido valor. Lila Downs, mexicana, filha de mãe índia, mas criada nos Estados Unidos, tem poucos álbuns, quase todos muito bons, com relevo para o fabuloso Border (La Linea). Fiquei desolado quando, há alguns anos, ela veio cantar ao Porto para uma plateia deprimentemente escassa nos jardins do Palácio de Cristal.

O tema deste vídeo, El Feo, faz parte de Border, um álbum sem o qual qualquer colecção de música étnica, ou world, como lhe queiram chamar, estará irreparavelmente manca.

março 05, 2007

A felicidade segundo Yungchen Lhamo

Para muitos, Yungchen Lhamo é hoje a voz do Tibete. Em 1989, teve de fugir a pé da sua terra, ocupada pelos chineses, através dos Himalaias. Refugiou-se na Índia, onde conheceu Dalai Lama e começou a defender a causa tibetana.

A voz, no entanto, iria levá-la muito mais longe. Hoje, vive em Nova Iorque e já cantou ao lado de Annie Lennox, Billy Corgan (Smashing Pumpkins) e Sheryl Crow. Peter Gabriel e a sua Real World Records deram um contributo valioso para a divulgação do seu enorme talento.

Michael Coulson produziu e realizou este vídeo para o belíssimo tema Hapiness is..., que abre o álbum Coming Home. Um libelo contra a vida estupidamente apressada e materialista dos nossos ocidentais dias.

fevereiro 22, 2007

Lhasa de Sela: El desierto

Há quem precise de uma eternidade para se apaixonar por uma voz. A mim, bastaram-me 15 segundos e este refrão saído das entranhas de Lhasa de Sela:

«He venido al desierto pa irme de tu amor/ Que el desierto es mas tierno y la espina besa mejor/ he venido a este centro de la nada pa gritar/ Que tu nunca mereciste lo que que tanto quise dar/ He venido yo corriendo olivandome de ti/ Dame un beso pajarillo, no te asustes colibrí/ He venido encendida al desierto pa quemar/ Porque el Alma prende fuego cuando deja de amar»

novembro 18, 2006

Uakti: ouro do Brasil

Eles tocam trompetim. Cachimbo. Borel. Taquará. Pius Pi. Sinos de madeira. Tatu. Panelário. Latinhas. Manfra. Trilobita. São mais de cinquenta instrumentos.

Eles tocam e fazem magia. Música celestial. Tocam Philip Glass, Bossa Nova, sonatas, samba. Tudo lindo. Chamam-se Uakti. O nome deriva de uma lenda indígena dos índios Tukano do Alto Rio Negro.

É descobri-los. Sem perder tempo. Têm um site impecável na Web, onde se pode entrar no universo musical deles.

Como podem tesouros destes permanecer tão desconhecidos em Portugal? Em bom brasileiro, como é que pode, cara?

junho 11, 2005

Khaled na Casa


É daqueles músicos que constumamos ver e ouvir com agrado no canal Mezzo. Mas, felizmente, desta vez, o Porto teve oportunidade de ver e ouvir Khaled ao vivo, na mais fabulosa Casa da Música do país.

Khaled trouxe consigo a mistura fina que costuma fazer nos seus álbuns, mestiçando rai (do seu país de origem, a Argélia), soul, reggae, rock, jazz, flamenco e tudo o mais a que possa deitar mão para, no fundo, através da sua música, fazer convergir no árabe o mundo diverso e baralhado dos dias de hoje.



O homem tem uma voz incrível. Canta em árabe, fala que é, por si só, música. Ouvimo-lo cantar como se fosse mais um instrumento, com o qual Khaled consegue inflexões vocais estonteantes.

Sempre com o rai de fundo, a batida forte levou a que metade da sala se pusesse de pé a dançar, durante quase todo o espectáculo, para desespero dos vigilantes da Casa.

Suspeito que alguma daquela boa gente que ali dançava chegou a Khaled pela mão de Nanni Moretti, o realizador italiano que nos fez descobrir também a exótica Angelique Kidjo ou o enorme Jarrett. Como esquecer aquela sequência de Querido Diário em que Moretti, ele mesmo, serpenteia as ruas da sua amada Roma, montado numa Vespa, ao som bamboleante de "Didi"?