fevereiro 28, 2007

Nunca é tarde para Kieslowski

Vai daqui uma saudação especial aos responsáveis do Fantasporto por terem feito com que alguma gente jovem descobrisse, por estes dias, o grande cinema do realizador polaco Krzysztof Kieslowski, com a exibição da fabulosa trilogia Três Cores: Branco, Vermelho e Azul. Só faltou mesmo mostrar também a obra-prima do mesmo realizador, A Dupla Vida de Véronique:

fevereiro 27, 2007

Arvo Pärt também se dança

A música de Arvo Pärt vive num fio ténue, entre o belo quase absoluto e a atracção irresistível pelo abismo. A companhia de dança do argentino Miguel Robles parece ter captado na perfeição as ondulações contrastantes de Tabula Rasa, um dos trabalhos mais conhecidos do compositor estónio. Dança e música dos nossos dias.

fevereiro 25, 2007

E McCoy Tyner aqui ao lado...

McCoy Tyner, músico que foi dos primeiros a chamar-me para o jazz, tal o seu virtuosismo ao piano, está a esta hora a tocar na Casa da Música. Eu devia lá estar, não devia? Para remediar a grave falha, compenso com este Giant Steps, um tema de John Coltrane, tocado com um speed a fazer lembrar o ultrasónico Art Tatum.

fevereiro 24, 2007

Cocteau Twins: no céu da memória

Na transição do analógico para o digital, quando os bons velhos discos de vinil começaram a ser substituídos pelos CD's, Heaven or Las Vegas foi o primeiríssimo álbum que comprei. Parece ter sido há uma eternidade.

Nos anos 80, os Cocteau Twins criaram uma "imensa minoria" de fãs com álbuns como Treasure ou Victorialands, entre outros, editados pela célebre 4AD. Ainda hoje sabe bem, de vez em quando, regressar à voz de Elisabeth Fraser e à sonoridade única (dream pop, ambient pop, como diz o All Music Guide?) destes escoceses. Enfim, coisas de quarentões melómanos saudosistas dos anos 80...

fevereiro 22, 2007

Lhasa de Sela: El desierto

Há quem precise de uma eternidade para se apaixonar por uma voz. A mim, bastaram-me 15 segundos e este refrão saído das entranhas de Lhasa de Sela:

«He venido al desierto pa irme de tu amor/ Que el desierto es mas tierno y la espina besa mejor/ he venido a este centro de la nada pa gritar/ Que tu nunca mereciste lo que que tanto quise dar/ He venido yo corriendo olivandome de ti/ Dame un beso pajarillo, no te asustes colibrí/ He venido encendida al desierto pa quemar/ Porque el Alma prende fuego cuando deja de amar»

fevereiro 19, 2007

Rufus+Beatles=magia

Rufus Wainwright pegou num clássico dos Beatles, Across the Universe, e deu-lhe um fôlego de magia. Esta versão, que faz parte da banda sonora do filme I am Sam (mais um bom papel de Sean Penn), confirma Rufus como compositor e intérprete de primeira linha no actual universo da pop, pejada que está de caramelos repetidos sem qualquer tipo de interesse ou talento. Depois deste vídeo, é obrigatório ir (a correr) ouvir os álbuns Want One e Want Two para se confirmar a veia deste nova-iorquino atraído pelo abismo.

fevereiro 17, 2007

O drama de Farinelli

A propósito dos 400 anos do nascimento da ópera, com a estreia, em Itália, de Orfeo, de Claudio Monteverdi, em 1607, o Público evoca hoje a figura de Farinelli, o mais célebre dos castrati.

Os castrati, cantores do sexo masculino castrados antes da puberdade, de forma a preservar o registo agudo da voz de criança, dominaram os palcos de ópera na época barroca.

Farinelli, ou Carlo Broschi (1705-1782), conseguia «produzir 250 notas com uma só respiração e sustentar uma nota durante mais de um minuto!».

O drama deste castrato está contado em filme. Só que Farinelli ainda não chegou ao mercado de DVD português. Esta seria uma óptima altura para uma qualquer editora trazer este faustoso, dramático e tocante filme para cá. E, mesmo assim, já viria tarde!

No excerto que se segue, Farinelli canta uma ária, sublime, diga-se de passagem, da ópera Rinaldo, de Händel:



fevereiro 15, 2007

O tango de Roxanne

Ainda a propósito dos quase 30 anos de Roxanne, cabe assinalar que ela também fez carreira no cinema. No seu belo Moulin Rouge, Baz Luhrmann juntou imagens estonteantes a uma coreografia de nos deixar sem fôlego para nos presentear com um avassalador momento de cinema: O tango de Roxanne.

The Police: Roxanne tem 30 anos

Quase 30 anos separam a versão de Roxanne ouvida, há dias, na cerimónia dos Grammys da original, pura e dura, do primeiro e inesquecível álbum dos The Police, Outlandos d'Amour, de 1978.

No início, a canção foi um "flop". Hoje, Roxanne, que conta a história de uma prostituta, é um "clássico", reinterpretado por muito boa gente, incluindo algum povo do jazz.

Foi bom vê-los aos três juntos de novo (a banda acabou em 1985). Estão mais velhinhos, naturalmente, mas continuam a produzir um grande som e muita música com apenas três instrumentos. Algo que sempre me fascinou nestes britânicos irrequietos e talentosos.

Veja-se agora Roxanne, 2007, e Roxanne 1978.

fevereiro 14, 2007

Pina Bausch em Almodóvar

Pode um pouco de dança captar toda a alma de um filme? Perfeitamente. Almodóvar escolheu um excerto de Pina Bausch para abrir o magnífico Fala com Ela. Onde a música dolente se cruza com o gesto em agonia. Alguém escreveu que filmar a morte é, por vezes, a forma mais bela de falar da vida.

fevereiro 11, 2007

Miles Davis: "Human nature"

For me, music and life are all about style. Miles Davis

fevereiro 09, 2007

Eu concordo com a despenalização

Depois da barulheira algo insana da campanha para o referendo, é bom voltarmos ao início. À pergunta inicial, que é esta, e esta: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

Concordo, sim senhor.

fevereiro 08, 2007

Lisa Gerrard II (agora com vídeo)

Deste rosto sai uma voz do outro mundo. E digo isto quase literalmente. Etérea, profunda, mística, planante. Do passado? Do futuro? Intemporal, talvez.

Chama-se Lisa Gerrard. Quem viu filmes como O Gladiador ou O Informador não estranhará a sonoridade desta australiana que grava os seus discos mágicos num estúdio caseiro na Austrália rural.

Gerrard, que vem dos fabulosos Dead Can Dance, mistura muita coisa boa para os melhores ouvidos: Haendel, música iraniana, folk, ambiências mediterrânicas, asiáticas, árabes.

Aqui e ali, namora o canto gregoriano. Nos seus dois primeiros álbuns a solo, The Mirror Pool e Duality, há passagens que nos remetem, por exemplo, para a voz da soprano Montserrat Figueras, no magnífico El Cant de la Sibil-La (1400-1560), da editora AliaVox, de Jordi Savall.

Quando ouvida sem pruridos puristas ou limitações de casta musical, Gerrard é uma delícia absoluta. A confirmar através deste Sanvean (I am your shadow).

fevereiro 06, 2007

Laurie Anderson, até que enfim!

Ouço Laurie Anderson há quase duas décadas. Nunca, em todos estes anos, pude ver nas nossas queridas televisões, públicas ou privadas, generalistas ou temáticas, grandes ou pequenas, boas e más, por cabo ou sem cabo, um único vídeo desta cantora (talvez seja redutor chamar-lhe só cantora...) pouco "popular".

Foi preciso chegar o YouTube para acabar com este jejum videográfico imposto pelos ecrãs feitos à medidas das massas. É um pouco como imaginar um iraniano a quem, de repente, puseram uma antena parabólica gratuita e legal no telhado com um milhão de canais à escolha.

O Superman é um dos temas mais conhecidos do primeiro álbum de Anderson, Big Science, de 1982, longe ainda dos tons mais melódicos de trabalhos mais recentes, como Strange Angels (belíssimo) ou Life on a String. Anderson voltará ao "MyTube" aqui no Travessias.

fevereiro 05, 2007

O Caravaggio em Jarman

Em muito boa hora, pela mão da nova editora Midas, chegaram ao mercado de DVD dois dos mais conhecidos filmes de Derek Jarman: Caravaggio e Wittgenstein.

Rever Caravaggio é uma festa para os sentidos. Um filme chiaroescuro, tal como as telas do pintor italiano do século XVII. Paredes nuas, luz oblíqua, vermelhos fortes, fundos pretos. Todo o filme respira Caravaggio. Ou não fosse o provocador realizador inglês formado em pintura.

Aqui e ali, um toque de Pasolini. Nos rostos, nos enquadramentos, nos ritmos, nas personagens fora das leis, artísticas e não só, do seu tempo. Caravaggio e Jarman viveram um pouco assim.

Os extras que a Midas fez incluir no DVD são óptimos, com destaque para um documentário sobre a vida de Jarman, que morreu de Sida, em 1994. Numa entrevista, o realizador diz que fez este filme virado para a tradição cinematográfica europeia (com destaque para a italiana) e não a dos Estados Unidos. Percebe-se que não ia à missa com os enlatados de Hollywood...

Segue-se um pequeno excerto do filme e um trabalho interessante que encontrei no YouTube com imagens de belíssimos quadros de Michelangelo Merisi da Caravaggio.:


fevereiro 04, 2007

Léo Ferré: La vie d'artiste

" Il te reste encore de beaux jours
Profites-en mon pauvre amour,
Les belles années passent vite." (para a Naná)