janeiro 14, 2004

Lua, a próxima invasão de Bush

De vez em quando, até da parte pensante do Exército dos EUA brotam lampejos de arrojada lucidez. Um relatório do War College, assinado por Jeffrey Record, diz aquilo que quem tem dois dedinhos de testa há muito anda a dizer, mas que esbarra no autismo dos Bush, dos Rumsfeld, dos Blair e dos pobres Aznares e Barrosos desta «coligação» de interresses mal amanhados.


A saber, tal como vem hoje trancrito no Público: «A guerra desencadeada pelos Estados Unidos no Iraque não só foi "desnecessária" como resultou de um erro estratégico ao reunir "regimes como o de Saddam Hussein e a Al-Qaeda como se fossem uma única ameaça não diferenciada".» Fala quem sabe de guerras.


Depois, ainda segundo o relatório, «"a natureza e parâmetros" da guerra global ao terrorismo continuam "frustrantemente difusos"». Boa parte da culpa disso «reside em que a Administração resolveu transformar adversários diversos (estados, terroristas, armas de destruição maciça, etc.) numa mesma "ameaça monolítica". Ao fazê-lo, "subordinou a clareza estratégica à clareza moral que procura na sua política externa e pode ter colocado os Estados Unidos numa via de conflito aberto e gratuito com estados e entidades não estatais que não constituem uma ameaça grave".»


Outra das acertadas do relatório reza asssim: «A consequência - diz o documento - foi uma guerra preventiva desnecessária contra um Iraque que estava contido e que criou uma nova frente no Médio Oriente para o terrorismo islâmico e desviou atenção e recursos da operação de garantir a segurança do solo americano contra mais ataques de uma Al-Qaeda que não pode ser contida». Mais claro, não podia ser.


O problema é que, entretanto, a prioridade de Bush virou-se para outro lado. Bagdade já deu o que tinha a dar. O homem agora sonha é em invadir a lua.