É inevitável voltar atrás e sublinhar a lápis: «Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções,...»
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janeiro 03, 2004
Proust e o prazer da leitura
Este nacozinho de prosa é uma delícia. Ora provem, que é colheita Proust:
«A amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. É além disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções, todas essas...» E O Prazer da Leitura, o prazer desta leitura, empanca imediatamente aqui.
dezembro 16, 2003
Notas soltas
Excelente o documentário sobre Akira Kurosawa na RTP2. Nesse dia, domingo à tarde, havia passado, em canais diferentes, pela enésima vez, O professor Chanfrado e mais um Arma Mortífera. Enquanto se repetem, ad nauseum, as receitas garantidas de Hollywood, outro cinema, (o cinema?), é remetido à clandestinidade audiovisual. Cada vez mais.
Os filmes de Kurosawa têm uma gramática dificilmente enquadrável na esquizofrenia concorrencial das televisões generalistas, dadas, em preocupante crescendo, ao espectacular, ao grotesco, ao rasca, ao popularucho. Os canais portugueses chafurdam já, em certos horários, ao nível do esgoto. E prometem piorar. O canal 2 ainda lá vai acertando algumas, embora reste saber até quando.
Gravado em bom tempo, na 2, claro, foi tempo de rever, em vídeo, Cão de Palha, de 1949, a primeira longa metragem do grande mestre japonês. No escurinho do preto e branco.
O flamenco, de vez em quando, volta-nos aos ouvidos para ser redescoberto nas profundidades da história das raças que o atravessa. Pela voz deslumbrante de Estrella Morante, por exemplo. Pelo dedilhar tão rápido quanto suave de Vicente Amigo nas cordas da sua guitarra.
Um dia destes, uma boa surpresa. Flamenco com imagens depuradíissimas pelo olhar de Carlos Saura. Numa cassete perdida no meio de tantas outras com filmes gravados por lembrar, sai-nos Flamenco, um filme-homenagem à música da Andaluzia. E lá aparece, entre muitos músicos, bailarinos de gema e cenários de extremo bom gosto, o afamado Joaquín Cortés.
E depois há o texto. A sós com ele. O prazer da leitura, de Proust, recorda-nos que as melhores imagens saem de páginas brancas pintadas com letras.
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