julho 31, 2006

Inclinação para o massacre

O recente desvario facínora de Israel no Líbano fez-me recordar e reler uma passagem do livro A Ideia de Europa, de George Steiner:

«Somos bípedes capazes de sadismo indizível, ferocidade territorial, ganância, vulgaridade e todo o tipo de torpeza. A nossa inclinação para o massacre, para a superstição, para o materialismo e o egotismo carnívoro pouco se alterou durante a breve história da nossa estada na Terra.»

julho 28, 2006

Greenaway por ele mesmo

Acaba de ser colocado no mercado, pela Costa do Castelo Filmes, o DVD O ventre de um arquitecto, do realizador britânico Peter Greenaway. O filme é para rever com prazer garantido, mas o DVD traz um brinde cinéfilo fantástico.

Trata-se do documentário O alfabeto e o olho. É uma verdadeira aula de cinema dada pelo próprio Greenaway. O realizador explica a sua concepção de cinema e diz coisas que, para muitos cinéfilos, serão incómodas.

Por exemplo: um operador de câmara devia estudar pintura pelo menos durante três anos antes de alguém lhe passar uma câmara de filmar paras as mãos; os mais de cem anos que a história do cinema leva são constituídos maioritariamente por "textos ilustrados", isto é, filmes em que as imagens se limitam a apoiar a narrativa escrita; o cinema é uma arte boa de mais para ser deixada nas mãos de meros contadores de histórias.

O alfabeto e o olho inspira-se nos "mapas" (elementos, números, letras) que Greenaway usa nos seus filmes, nos quais a inspiração da pintura tem lugar de relevo. E ajuda-nos a ver as imagens em movimento com outro olhar.

julho 25, 2006

De olhares: 366 minutos de Itália

Seis horas de filme. Quatro décadas de Itália, mostradas a partir da história de uma família italiana, dos anos 60 até à actualidade. Obra de grande fôlego, filmada por Marco Tullio Giordana de forma sóbria, sensível e envolvente. A espessura das personagens, contrastada com momentos marcantes na vida colectiva de Itália, permite aguentar, sem quebras, a narrativa de... 366 minutos. A Melhor Juventude é para quem gosta de história com boas estórias dentro.

julho 23, 2006

Líbano

Já pode ser lido online um texto, lúcido e certeiro, que Vital Moreira escreveu recentemente no Público, a propósito do ataque israelita no sul do Líbano.

Começa assim: «Quando um Estado, para responder a uma acção bélica inimiga, resolve atacar alvos civis, matar gente inocente a esmo, destruir estradas e pontes, portos e aeroportos, centrais eléctricas e bairros urbanos, isso tem um nome feio: terrorismo. No caso, terrorismo de Estado. Na vertigem da violência que é o interminável conflito israelo-palestiniano, Israel adopta decididamente a mesma lógica fatal de que acusa os seus inimigos, ou seja, transformar os civis em carne para canhão.»

Vale a pena ler o resto de "Entre ruínas, ninguém leva a melhor".

julho 15, 2006

Israel destrambelhado

A propósito da destrambelhada e desproporcionada intervenção militar na Faixa de Gaza e no sul do Líbano por parte de Israel - esse estado que, por vezes, se comporta como um verdadeiro terrorista - o Monde faz hoje, em editorial, uma síntese perfeita:

«Depuis l'arrivée de George W. Bush à la Maison Blanche, les Etats-Unis ont abandonné leur rôle d'" honnête médiateur" et collent à la politique d'Israël, quelle qu'elle soit. Les Russes n'ont pas de stratégie particulière, sinon celle de rendre la vie difficile aux Américains. Les Européens ont du mal à se faire entendre, faute d'exister politiquement. Et, comme l'a montré une pathétique prestation vendredi soir au Conseil de sécurité, l'ONU est impuissante : elle est le reflet de la mauvaise volonté de tout le monde.»

julho 11, 2006

Laurie Anderson, Casa da Música

Quem perdeu o espectáculo de Laurie Anderson no Teatro São João não pode dar-se ao luxo de a deixar escapar, esta quinta-feira, na Casa da Música.

Quem a conhece e gosta, vai bisar. Nem que seja para a ouvir ler uma lista telefónica.

Quem ainda não descobriu esta pérola de talento, imaginação e rasgo, tem agora uma oportunidade fantástica. E logo na Casa da Música!

julho 10, 2006

De olhares: um palácio de Calatrava

Santiago Calatrava, Palácio das Artes Rainha Sofia, Valência, 2005

julho 09, 2006

A razão do improviso

«Improvisar é como viver um transe espiritual, não é algo que se possa analisar através da razão. A essência da improvisação é permitir que a música surja por si mesma.»

julho 04, 2006

De ouvido: Kate Bush

I found a book on how to be invisible
On the edge of the labyrinth
Under a veil you must never lift
Pages you must never turn
In the labyrinth
You stand in front of a million doors
And each one holds a million more
Corridors that lead to the world
Of the invisible

julho 03, 2006

O Porto, por enquanto

Umas vezes, o Porto (cidade...) dá vontade de emigrar: ruas sujas, pessoas porcas, casas a cair, mamarrachos a pulular, passeios a rebentar, polícias por aparecer, carros a acelerar, mau humor a dar com um pau, a noite deserta e os vizinhos estranhos e as pessoas sós.

Outras vezes, a velha Invicta redime-se e enche-nos de satisfação. A bela festa do São João na Casa da Música, a Casa da Música, as sardinhas assadas num restaurante patusco, a nova Praça do Marquês, o Metro a tempo e horas e as suas estações de primeiro mundo, o Sakamoto, a Laurie Anderson e a Lila Downs por cá, o café do Guarani que sabe cada vez melhor, o do Majestic também só que é mais caro, a nova avenida "Sizenta" em frente à Câmara que nos deixa com muitas dúvidas, os plátanos imponentes do jardim de Arca D'água (que já viram o rabinho a muito autarca incompetente), as camélias que perfumam o ar, o inacreditável (por ser tão grande e tão bonito) Parque da Cidade. E esse país das maravilhas que são os jardins de Serralves, onde podemos suspender a cidade no tempo e no espaço.

E o mar. Há sempre o mar casado com o rio para onde fugir quando o betão enoja e a ignorância da política se torna nauseabunda.