O Primeiro de Janeiro ficará para a história do jornalismo e da blogosfera nacional pelas piores razões: foi o primeiro jornal a despedir jornalistas por causa do que escreveram num blogue, o Diário de um Jornalista. Este episódio, inédito em Portugal, é revelador de pelo menos dois aspectos significativos.
Primeiro, que os blogues podem constituir, de facto, uma 'arma' enquanto publicações com alguma visibilidade, um espaço autónomo de denúncia que escapa ao controlo, tanto de instituições, como de hierarquias estabelecidas. Desta vez, no entanto, o cano virou-se para os próprios autores: alguém terá «bufado» os nomes, o anonimato das críticas (sempre questionável) feitas por jornalistas da casa ao funcionamento interno do Janeiro esfumou-se, e a história acabou mal, pois a capacidade de 'encaixe' dos chefes lá tem os seus limites.
Segundo, e talvez mais importante, é o que este caso indicia sobre um certo mal-estar instalado nalgumas redacções e que só ganha expressão ocasionalmente, em artigos esporádicos num ou noutro jornal, em conversas informais de bar ou corredor, em almoços de colegas de trabalho, nos bastidores dos poucos congressos jornalísticos levados a cabo no país, ou em espaços de publicação autónomos, passíveis de anonimato, como são os blogues.
De resto, a vivência real das redacções dos diferentes media portugueses continua a ser tema tabu. Um não-tema. Mas se a moda dos diários de jornalistas pega...