abril 20, 2004

Podres da bola à vista

Quando a esmola é grande, o pobre do cidadão desconfia. Valentim Loureiro detido para interrogatório? Operação «Apito Dourado» da Polícia Judiciária detém árbitros, dirigentes da Federação de Futebol, revista a Câmara do Marco de Canaveses e casa de Avelino Ferreira Torres? Será isto, finalmente, um sonho num país de pesadelo futeboleiro?

Veremos. Este apito da Judiciária peca por ser claramente tardio. Os últimos anos estão cheios, inundados, abarrotados, de insinuações, acusações, suspeitas, indícios, histórias mal contadas, de gente de fora e de dentro do pantanal da bola, a que as polícias não deram ponta de cavaco. Talvez porque as misturas perigosas de futebol, justiça e política o impedissem, quem sabe.

Os «agentes» do sistema lamacento da bola (dirigentes, árbitros, empresários, etc.) têm-se rido a bom rir da parolada nacional que os sustenta. E de um Estado que, ou os adula à mentecapto, ou os teme covardemente. O que inclui, naturalmente, a comunicação social, sempre pronta a empolar e a babar-se perante o «fenómeno desportivo», sedenta de lucro e audiências à custa da cega «paixão da nação».

Veremos se, mais uma vez, a montanha não acaba por parir uns quantos ratos. O passado recente não é muito animador. Há tempos, andou a polícia atrás dos alegados sacos azuis de Pimenta Machado. O homem foi detido com pompa, mas continua por aí, livre como um passarinho para oferecer ao país as suas magníficas alarvidades.

Estaremos cá para ver se, desta vez, como é costume, os «tubarões» se safam para desespero do mexilhão, esse sim, o tramado de sempre.

Esperemos, pois, que este apito não passe, num ápice, de dourado a torrado. O país político-autárquico-futeboleiro está de tal maneira podre que a nação não se pode dar a mais esse luxo.