Aznar não estava há muitos anos à frente dos destinos da Espanha. À beira de, digamos, um Narciso Miranda na Câmara de Matosinhos, podia mesmo ser considerado um amador em termos de parmanência consecutiva no poder. Apesar disso, Aznar tresandava já a mofo. Foi-se, pela porta dos fundos, em muito boa hora.
Zapatero é outra conversa. Ar jovial, sem necessidade postiça de um bigode para se conferir a si próprio alguma autoridade, o novo chefe do governo espanhol já mostrou, em pouco tempo, como as coisas podem ser diferentes, para melhor. Este jovem foi uma lufada de ar fresco que entrou no palco da Europa.
Por exemplo, no que diz respeito ao Iraque: se a ONU não assumir o controlo daquele país até 30 de Junho, as tropas espanholas vêm-se embora. E mais disse: «Quero tirar Espanha da fotografia dos Açores, tirar Espanha de uma guerra ilegal.» Temos homem! Como se vê, não é utopia esperar o mínimo de um chefe de governo: que seja lúcido e inteligente. Nos antípodas de um obcecado Blair, por exemplo.
Outro aspecto positivíssimo tem a ver com o pôr a Igreja no seu devido lugar. Zapatero já teve oportunidade de lembrar, tanto a padres, como a políticos de direita, que, ao contrário do que acontecia no consulado Aznar, agora não vai haver misturas. O Estado é laico. E assim deverá continuar.
Iraque e Igreja. Por estes dois pontos apenas se pode ver, depois da eleição de Zapatero, como Portugal ficou ainda a uma distância maior do seu país vizinho. Distância civilizacional, entenda-se.