Este governo começa a ser um caso sério de polícia. Já não se limita a fazer pressões mais ou menos directas para se calarem vozes incómodas, estejam elas nas televisões, nos jornais ou nas rádios: faz gala disso.
O ministro Morais Sarmento veio agora assumir que «deve haver uma definição por parte do poder político acerca do modelo de programação do operador de serviço público» e que deve «haver limites à independência» dos operadores públicos. Donde, para ele, é o governo que deve responder pela RTP, mesmo ao nível da informação. Credo!
Outro ministro, famoso pela sua fidelidade canina a Santana Lopes e que esteve na origem do 'caso Marcelo', insinua a existência uma cabala entre o Expresso, o Público e Marcelo Rebelo de Sousa para atacar o governo. Isto, apesar de assumir que não tem provas. Importa-se de repetir, dr. Gomes da Silva?
Depois do 'caso Granadeiro', corrido quase a pontapé da Lusomundo para ser substituído por um «yes man» a toda a prova vindo da administração da Lusa, e do 'caso Marcelo', estas atordoadas ministeriais do dia enterram de vez quaisquer dúvidas sobre a ferocidade da estratégia deste governo no sentido de controlar a maior quantidade possível de órgãos de comunicação social. Eles acham que os jornalistas são todos de esquerda. Esta, sim, pode perfeitamente ser considerada uma monumental cabala contra a liberdade de imprensa e a pluralidade de ideias em Portugal.
Como lembrava Pacheco Pereira (o último cabalista do PSD?) num recente debate, no Porto, os órgãos de comunicação potencialmente 'controláveis' pelo governo não são tão poucos como isso: RTP1, A Dois, RTP Açores, RTP Madeira, RTP Internacional, RTP África, RTPN, Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP Internacional, RDP Madeira, RDP Açores, Agência Lusa, DN, JN, TSF, 24 Horas, Jornal do Fundão, Açoriano Oriental, DN Madeira...
Todos estes meios estão hoje ao alcance de gente manifestamente perigosa, perigosa porque tem a noção exacta do que está a fazer com o poder que tem e não tem vergonha na cara. Gente para quem a manutenção no poder é prioridade suprema, custe o que custar ao país, às liberdades e aos cidadãos.
A «jardinização» do continente prossegue com a alegria de uma marcha fúnebre, à qual assistimos impotentes.