outubro 06, 2004

Estamos a chegar à Madeira...

Os media noticiosos portugueses, com poucas excepções, estão a ser alvo simultaneamente de uma mercantilização brutal e de uma despudorada, terceiro-mundista, tentativa de controlo político editorial.

O lucro, a racionalização financeira, o emagrecimento das empresas jornalísticas, a nomeação de directores dóceis e/ou escolhidos pela cor política, tudo isto pode interessar muito aos grupos de comunicação e seus accionistas. Duvida-se é de que sirva os interesses do jornalismo e dos jornalistas, por um lado, e os do público que quer ser bem informado, por outro.

Ora, este gravíssimo problema, que se traduz numa pauperização da qualidade do jornalismo e, consequentemente, numa deterioração do acesso dos cidadãos a informação de qualidade, afinal não é problema. A julgar pela inacção silenciosa dos comentaristas encartados, dos partidos políticos, do presidente da República, do Sindicato dos Jornalistas, da Alta Autoridade, enfim, de quase toda a gente, este problema nem sequer existe.

Daí que seja da maior relevância e oportunidade o editorial escrito hoje por Eduardo Dâmaso no Público. Dâmaso, aliás, tem escrito os melhores editoriais deste diário nos últimos tempos. Leia-se e reflicta-se:

«Há já algum tempo que o Governo desencadeou uma operação de controlo de uma parte do espaço mediático, território decisivo para as batalhas eleitorais que se avizinham, procurando concretizar uma velha estratégia de alguns dos "jovens turcos" que mandam no partido e que vem dos tempos da ascensão de Durão Barroso. Essa estratégia passa por controlar editorialmente um diário nacional de grande expansão, a televisão pública e os restantes órgãos de comunicação estatizados ou que se encontram debaixo do chapéu de chuva da PT Multimédia, para gerir em vantagem o ciclo político que vai até 2006 e em que o PSD quer ter condições para chegar sozinho à maioria absoluta.»

«Esta operação de controlo editorial da comunicação social estatizada ou sob influência privilegiada do Estado teve uma espécie de tiro de partida com o saneamento político de Henrique Granadeiro, ex-administrador da PT Multimédia e militante do PSD há muitos anos. Bom gestor e conhecedor do negócio específico da comunicação social, Granadeiro nunca foi conhecido em lado nenhum por interferir nos conteúdos editoriais, o que, nas actuais circunstâncias, é um pecado. Por isso foi literalmente "despachado" ante o silêncio geral de todos quantos, partidos de oposição incluídos, parecem não ter entendido o alcance da mudança. »

Infelizmente, meu caro Dâmaso, estamos mesmo a chegar à Madeira...