O episódio da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI teve o grande mérito de levantar uma positiva gritaria à volta de vários problemas graves da comunicação social que andavam enterrados em estranhos silêncios ou cuidadosas precauções.
A saber: a crescente falta de «isenção» e «independência» da generalidade dos media em relação aos poderes político e financeiro; a ingerência, directa ou indirecta, de agentes governamentais na composição de administrações e direcções de grupos de comunicação (caso mais evidente, o da Lusomundo); o aumento da pressão financeira, nomeadamente por parte de accionistas, como se vê agora com a TVI, sobre os conteúdos, entre os quais os jornalísticos; a criação de um clima mediático desfavorável à dissenção e à crítica (veja-se a inanidade da escrita de boa parte dos colunistas de jornais...).
Além disto, o caso do professor Marcelo trouxe à superfície outros aspectos, uns curiosos, outros anedóticos. Por exemplo, Portugal descobriu no elenco governamental um (mais um!) ministro inepto, Gomes da Silva. Viu um Marques Mendes, com ar de enterro, lamentar toda esta história, que vê como má para o partido e para o governo. Nos tempos de Cavaco, contava-se nas redacções que era ele quem ligava directamente para os chefes da RTP para dar o alinhamento dos telejornais. Vá lá a gente acreditar em tal coisa...
Anedoticamente, o país viu ainda a Alta Autoridade para a Comunicação Social ter um sobressalto, quiça um frémito!, cívico: este organismo, moribundo, abúlico em relação aos maiores problemas dos media portugueses, quer apurar agora toda a verdade, analisando as afirmações do ministro sobre a falta de papas na língua do professor Marcelo... Definitivamente, a AACS vai sair de cena pela porta do cavalo.
Enfim, cantando e rindo, o país vai-se afundando, alegremente.