outubro 28, 2004

Site do Clube de Jornalistas

A comemorar 20 anos de existência, o Clube de Jornalistas inaugura hoje o seu site, com o objectivo de «alargar o espaço de debate, reflexão e intervenção pública dos jornalistas sobre todas as questões relacionadas com o mundo da informação (escrita, radiofónica, televisiva e on-line) numa perspectiva não corporativa.»

Vem em muito boa altura, este sítio. Abre num dos períodos mais críticos da comunicação social portuguesa após o 25 de Abril, numa altura em que um bando de governantes ineptos e irresponsáveis resolveu abrir caça à liberdade de imprensa e de expressão, com a cumplicidade de alguns empresários pacóvios e vários "jornalistas" bananas. Como diria o outro, há que dizê-lo com frontalidade. Hoje mais do que nunca.

outubro 26, 2004

O comissariado mata

Quando, há quase um ano, bati com a porta no DN, por discordar da nomeação do assessor-"jornalista" Fernando Lima para director e dos nomes que escolheu para a sua equipa directiva, nomeadamente no Porto, sabia que o que ali vinha para o jornal era mau. A escola do comissariado político no jornalismo tem barbas e raramente surpreende. Não surpreendeu, uma vez mais.

Só não imaginava é que esta gente, em onze meses, conseguisse a proeza de enterrar o jornal num lodo imenso de falta de credibilidade, de servilismo acéfalo, de incompetência jornalística estonteante. Os danos que estas luminárias, a começar pelo conde da PT e a acabar nos directores, causaram ao título podem, como dizem os elementos do Conselho de Redacção no seu comunicado de hoje, tornar-se irreversíveis.

Como pode um grupo de comunicação deste calibre cometer tantos disparates juntos num espaço de tempo tão curto? Como é possível que, ao fim de tanta asneira, ainda consigam piorar as coisas com a novela inenarrável do convite e recusa a Clara Ferreira Alves? Que raio de director é aquele que está ali a fingir que não é nada com ele ao mesmo tempo que a "sua" redacção se esfrangalha? Os patrões da PT e os seus amigos do governo ensandeceram de vez?

Vale a pena ler o comunicado de hoje do Conselho de Redacção do DN, que o Público.pt transcreve na íntegra. É assustador.

Cadeira eléctrica

Clara Ferreira Alves recusou o convite para dirigir o DN, «por não acreditar que a Lusomundo Media e a Global Notícias estivessem dispostas a reunir as condições necessárias para voltar a fazer do 'Diário de Notícias' um diário de referência, isenção e aceitação pública».

O cargo de director do DN é agora uma cadeira eléctrica. Quem para lá for, queima-se.

outubro 23, 2004

Criaturas dos média

Excelente síntese, esta de Augusto Santos Silva, no Público:

«As criaturas que hoje justificadamente assustam tantos jornalistas, e tornam "irrespirável" o ambiente vivido em tantas redacções, são, a maior parte delas, criações de jornalistas. Estejam, aliás, em que pólo partidário estiverem - no PSD e no PP, como no PS e no BE.»

Uma escolha intrigante

Há qualquer coisa que não bate bem nisto. É uma «fonte governamental» a confirmar ao Expresso que Clara Ferreira Alves vai ser a nova directora do DN? É o governo que já tem a certeza, que garante, mesmo antes dos administradores do DN (o próprio director diz estar a leste), a nomeação de Ferreira Alves?

Das duas uma: ou a notícia tem um lead propositadamente venenoso, conduzindo o leitor para a conclusão de que Clara Ferreira Alves é, antes de mais, uma escolha do governo, ou, de facto, o DN vai persisitir no erro de ter a sua imagem colada a boletim oficial dos poderes no activo, imagem essa que lhe tem saído muito caro em termos de credibilidade e vendas.

De qualquer modo, Clara Ferreira Alves irá partir para o cargo com um rótulo pouco abonatório nos dias que correm: a de ter boas relações com Santana Lopes, que a escolheu para dirigir a Casa Fernando Pessoa. Somado a tudo o resto a que temos assistido, sobretudo em termos de tentativas de controlo da comunicação social por parte do governo, a nova directora do DN, independentemente das suas qualidades profissionais, vai ter um trabalho dos diabos para se livrar do carimbo que se lhe começa a colar à pele.

outubro 21, 2004

De leituras: valores jornalísticos

«Desde que o escândalo e o espectáculo se tornaram os géneros dominantes nas notícias em todos os média, incluindo a web, os valores do jornalismo têm de ser reavaliados de forma a tê-los em conta.» Jim Hall, Online Journalism: A Critical Primer.

outubro 20, 2004

Gente perigosa

Este governo começa a ser um caso sério de polícia. Já não se limita a fazer pressões mais ou menos directas para se calarem vozes incómodas, estejam elas nas televisões, nos jornais ou nas rádios: faz gala disso.

O ministro Morais Sarmento veio agora assumir que «deve haver uma definição por parte do poder político acerca do modelo de programação do operador de serviço público» e que deve «haver limites à independência» dos operadores públicos. Donde, para ele, é o governo que deve responder pela RTP, mesmo ao nível da informação. Credo!

Outro ministro, famoso pela sua fidelidade canina a Santana Lopes e que esteve na origem do 'caso Marcelo', insinua a existência uma cabala entre o Expresso, o Público e Marcelo Rebelo de Sousa para atacar o governo. Isto, apesar de assumir que não tem provas. Importa-se de repetir, dr. Gomes da Silva?

Depois do 'caso Granadeiro', corrido quase a pontapé da Lusomundo para ser substituído por um «yes man» a toda a prova vindo da administração da Lusa, e do 'caso Marcelo', estas atordoadas ministeriais do dia enterram de vez quaisquer dúvidas sobre a ferocidade da estratégia deste governo no sentido de controlar a maior quantidade possível de órgãos de comunicação social. Eles acham que os jornalistas são todos de esquerda. Esta, sim, pode perfeitamente ser considerada uma monumental cabala contra a liberdade de imprensa e a pluralidade de ideias em Portugal.

Como lembrava Pacheco Pereira (o último cabalista do PSD?) num recente debate, no Porto, os órgãos de comunicação potencialmente 'controláveis' pelo governo não são tão poucos como isso: RTP1, A Dois, RTP Açores, RTP Madeira, RTP Internacional, RTP África, RTPN, Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP Internacional, RDP Madeira, RDP Açores, Agência Lusa, DN, JN, TSF, 24 Horas, Jornal do Fundão, Açoriano Oriental, DN Madeira...

Todos estes meios estão hoje ao alcance de gente manifestamente perigosa, perigosa porque tem a noção exacta do que está a fazer com o poder que tem e não tem vergonha na cara. Gente para quem a manutenção no poder é prioridade suprema, custe o que custar ao país, às liberdades e aos cidadãos.

A «jardinização» do continente prossegue com a alegria de uma marcha fúnebre, à qual assistimos impotentes.

outubro 17, 2004

Burocracia assombrosa

«As pirâmides do Egipto hão-de ser realmente impressionantes, os jardins suspensos da Babilónia realmente assombrosos, que nada infunde tanto respeito como a burocracia portuguesa.»

Gerrit Komrij, escritor holandês, em Um Almoço de Negócios em Sintra.

outubro 14, 2004

Clara no DN?

A confirmar-se, é uma excelente notícia. Segundo adianta hoje o Jornal de Negócios, Clara Ferreira Alves é a nova directora do Diário de Notícias. Trata-se de uma boa notícia por várias razões.

Primeira: Ferreira Alves é uma jornalista. Vai substituir no cargo um assessor, que foi posto por engano à frente do DN, com os resultados desastrosos que se conhecem, em termos de desgaste de credibilidade do título e quebra acentuada de vendas.

Segunda: ela escreve lindamente. Tem uma cabeça arejada e uma prosa de primeira água. A "Pluma Caprichosa" não tem papas na língua.

Terceira: Esperemos que a notícia do Jornal de Negócios, Clara Ferreira Alves é a nova directora do «Diário de Notícias», se concretize mesmo.


Leitores de jornais cautelosos com blogues

Os leitores de jornais que seguem blogues permanecem cautelosos ao julgarem a credibilidade dos bloguistas, mas dizem que a vontade de desafiar os jornalistas tradicionais torna a rede de sites pessoais um recém-chegado vital na cena dos media.

Esta é a síntese principal das respostas que leitores de jornais deram a um grupo de editores nos Estados Unidos. A sondagem foi feita pela Associated Press Managing Editors' National Credibility Roundtables Project.

Os leitores que consideram os blogues importantes dizem que os bloguistas discutem estórias que os jornalistas dos media tradicionais ignoram (uma realidade sobremaneira patente em Portugal) e mostram vontade de questionar as decisões que as cadeias de informação tomam.

Ligações

APME Survey: Newspaper Readers Use Blogs Cautiously

outubro 13, 2004

De ouvido: Rammstein

Foi numa dessas cavalgadas valquíricas sobre as dezenas de canais da TV Cabo em busca de alguma coisa decente para ver que os Rammstein me apanharam pelo ouvido no pequeno ecrã.

Ali estava uma banda alemã da pesada a cantar um sugestivo refrão em inglês que nos parecia dizer que estamos todos a viver na América, independentemente de estarmos na China, na Índia, na Europa, em África ou, quem sabe, no Porto. As imagens do videoclip ajudam a construir o sentido: os Rammstein estão na Lua vestidos com fatos espaciais da NASA. Cá em baixo, na Terra, vê-se monges budistas a comer hambúrgueres e a beber Coca-Cola. Um indiano fuma tabaco made in USA. Etc.

O refrão, em inglês, é: "We're all living in Amerika/ Amerika ist wunderbar/ We're all living in Amerika/ Amerika /Amerika", no que parece ser uma crítica velada ao facto de quase todo o planeta estar colonizado pela cultura popular dos States e respectivos produtos. Será? É que o resto é cantado em alemão, o que até nem é mau para contrariar um pouco a hegemonia do inglês na música "popular" contemporânea.

Numa das suas variações, o refrão não deixa dúvidas: "We're all living in Amerika/ Coca-Cola, sometimes war". É, pois, de crer que George W. Bush goste tanto de ouvir Rammstein como de ver Michael Moore pela frente.

É preparar os ouvidos para o metal e ver o clip do tema Amerika (no fundo da página que aparece, clicar na opção webclips). Amerika ist Wunderbar!

outubro 12, 2004

Concentração dos media: o grande mal

Na melhor das hipóteses, dentro de uma semana já ninguém fala no episódio Marcelo, no regresso da "censura", das pressões governamentais sobre empresas jornalísticas, nos excessos da perniciosa concentração dos media, da redundância da Alta Autoridade, etc.. Outro escândalo qualquer tratará a comunicação social de cavalgar.

Entretanto, graças à absoluta inépcia política dos governos PS e PSD nesta área, a par dos fretes que trataram de fazer a grupos empresariais, o maior dos males está feito e nem uma super-Alta Autoridade será capaz de contornar os enormes problemas levantados pelo simples facto de a maioria dos media que contam para o Totobola estarem hoje nas mãos de menos de meia dúzia de grandes "patrões". Nunca passou por estas cabecinhas partidárias o mal que daqui advém para a boa saúde democrática da própria sociedade. Enfim, trocos. Pode Jorge Sampaio continuar a sonhar com o fim da "censura"...

A maior factura paga pela concentração excessiva dos media (problema que não é exclusivo de Portugal, longe disso) é paga pelos jornalistas, amordaçados entre os ditames empresariais, em geral mais fortes do que os princípios jornalísticos, e a necessidade absoluta de manter o posto de trabalho face a um mercado de emprego saturado, medíocre e sem grandes hipóteses de escolha. O pânico de "ficar queimado" anda à solta.

Os jornalistas estão calados, receosos, divididos, profissionalmente desregulados, e ainda por cima mal representados pelo Sindicato dos Jornalistas. Mas há muito boa gente por essas redacções fora que acha que assim é que está bem. Então, está bem.

Ligações

outubro 10, 2004

Bordoadas

Gostei de ler estas duas bordoadas acertadas:

«A demissão de Marcelo ou serve para pôr um limite à interferência do Governo nos media; ou inaugura a corrupção final do regime.» Vasco Pulido Valente, no DN.

«O afastamento de Henrique Granadeiro da presidência da Lusomundo Media foi o primeiro passo na escalada da domesticação da comunicação social que o governo empreendeu - e que teve um ponto alto com a demissão de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI. No caso de Granadeiro, foi tudo mais ínvio e soez - e por isso mais grave.» Nicolau Santos, no Expresso.

E ainda esta notícia do Público: "Nomeação de Delgado provoca demissão de Silva Peneda da Lusomundo Media".

Isto está bonito, não está?

outubro 08, 2004

Liberdade e servidão

Portugal acorda, inesperadamente, mas em boa hora, para o debate da censura, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, da liberdade dos homens. Poucos, de facto, são realmente livres, como escreve hoje Sousa Tavares, no Público. A liberdade de dizer NÃO está ao alcance de poucos.

Tudo isto lembra uma canção de Bob Dylan, do álbum Slow Train Coming. Basicamente, em Gotta Serve Somebody, Dylan canta que quase toda a gente (médicos, padres, estrelas de rock ou dirigentes de uma televisão...), têm sempre que servir alguém. Fica aqui um excerto:

Gotta Serve Somebody
Bob Dylan

You may be an ambassador to England or France,
You may like to gamble,
you might like to dance,
You may be the heavyweight champion of the world,
You may be a socialite with a long string of pearls

But you're gonna have to serve somebody, yes indeed
You're gonna have to serve somebody,
Well, it may be the devil or it may be the Lord
But you're gonna have to serve somebody.

You might be a rock 'n' roll addict prancing on the stage,
You might have drugs at your command, women in a cage,
You may be a business man or some high degree thief,
They may call you Doctor or they may call you Chief

But you're gonna have to serve somebody, yes indeed
You're gonna have to serve somebody,
Well, it may be the devil or it may be the Lord
But you're gonna have to serve somebody.

You may be a state trooper, you might be a young Turk,
You may be the head of some big TV network,
You may be rich or poor, you may be blind or lame,
You may be living in another country under another name

But you're gonna have to serve somebody, yes indeed
You're gonna have to serve somebody,
Well, it may be the devil or it may be the Lord
But you're gonna have to serve somebody.

You may be a construction worker working on a home,
You may be living in a mansion or you might live in a dome,
You might own guns and you might even own tanks,
You might be somebody's landlord, you might even own banks

But you're gonna have to serve somebody, yes indeed
You're gonna have to serve somebody,
Well, it may be the devil or it may be the Lord
But you're gonna have to serve somebody.

De leituras: liberdade de imprensa

«A liberdade de imprensa não é meramente uma abstracção: é uma poderosa ferramenta que, quando usada responsavelmente, equilibra e esclarece as forças contendoras do governo, mercado e sociedade civil. A imprensa livre não é de ninguém, mas antes um compósito de muitas coisas ao mesmo tempo.» Kevin Kawamoto, Digital Journalism.

outubro 07, 2004

Cantando e rindo

O episódio da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI teve o grande mérito de levantar uma positiva gritaria à volta de vários problemas graves da comunicação social que andavam enterrados em estranhos silêncios ou cuidadosas precauções.

A saber: a crescente falta de «isenção» e «independência» da generalidade dos media em relação aos poderes político e financeiro; a ingerência, directa ou indirecta, de agentes governamentais na composição de administrações e direcções de grupos de comunicação (caso mais evidente, o da Lusomundo); o aumento da pressão financeira, nomeadamente por parte de accionistas, como se vê agora com a TVI, sobre os conteúdos, entre os quais os jornalísticos; a criação de um clima mediático desfavorável à dissenção e à crítica (veja-se a inanidade da escrita de boa parte dos colunistas de jornais...).

Além disto, o caso do professor Marcelo trouxe à superfície outros aspectos, uns curiosos, outros anedóticos. Por exemplo, Portugal descobriu no elenco governamental um (mais um!) ministro inepto, Gomes da Silva. Viu um Marques Mendes, com ar de enterro, lamentar toda esta história, que vê como má para o partido e para o governo. Nos tempos de Cavaco, contava-se nas redacções que era ele quem ligava directamente para os chefes da RTP para dar o alinhamento dos telejornais. Vá lá a gente acreditar em tal coisa...

Anedoticamente, o país viu ainda a Alta Autoridade para a Comunicação Social ter um sobressalto, quiça um frémito!, cívico: este organismo, moribundo, abúlico em relação aos maiores problemas dos media portugueses, quer apurar agora toda a verdade, analisando as afirmações do ministro sobre a falta de papas na língua do professor Marcelo... Definitivamente, a AACS vai sair de cena pela porta do cavalo.

Enfim, cantando e rindo, o país vai-se afundando, alegremente.

outubro 06, 2004

Estamos a chegar à Madeira...

Os media noticiosos portugueses, com poucas excepções, estão a ser alvo simultaneamente de uma mercantilização brutal e de uma despudorada, terceiro-mundista, tentativa de controlo político editorial.

O lucro, a racionalização financeira, o emagrecimento das empresas jornalísticas, a nomeação de directores dóceis e/ou escolhidos pela cor política, tudo isto pode interessar muito aos grupos de comunicação e seus accionistas. Duvida-se é de que sirva os interesses do jornalismo e dos jornalistas, por um lado, e os do público que quer ser bem informado, por outro.

Ora, este gravíssimo problema, que se traduz numa pauperização da qualidade do jornalismo e, consequentemente, numa deterioração do acesso dos cidadãos a informação de qualidade, afinal não é problema. A julgar pela inacção silenciosa dos comentaristas encartados, dos partidos políticos, do presidente da República, do Sindicato dos Jornalistas, da Alta Autoridade, enfim, de quase toda a gente, este problema nem sequer existe.

Daí que seja da maior relevância e oportunidade o editorial escrito hoje por Eduardo Dâmaso no Público. Dâmaso, aliás, tem escrito os melhores editoriais deste diário nos últimos tempos. Leia-se e reflicta-se:

«Há já algum tempo que o Governo desencadeou uma operação de controlo de uma parte do espaço mediático, território decisivo para as batalhas eleitorais que se avizinham, procurando concretizar uma velha estratégia de alguns dos "jovens turcos" que mandam no partido e que vem dos tempos da ascensão de Durão Barroso. Essa estratégia passa por controlar editorialmente um diário nacional de grande expansão, a televisão pública e os restantes órgãos de comunicação estatizados ou que se encontram debaixo do chapéu de chuva da PT Multimédia, para gerir em vantagem o ciclo político que vai até 2006 e em que o PSD quer ter condições para chegar sozinho à maioria absoluta.»

«Esta operação de controlo editorial da comunicação social estatizada ou sob influência privilegiada do Estado teve uma espécie de tiro de partida com o saneamento político de Henrique Granadeiro, ex-administrador da PT Multimédia e militante do PSD há muitos anos. Bom gestor e conhecedor do negócio específico da comunicação social, Granadeiro nunca foi conhecido em lado nenhum por interferir nos conteúdos editoriais, o que, nas actuais circunstâncias, é um pecado. Por isso foi literalmente "despachado" ante o silêncio geral de todos quantos, partidos de oposição incluídos, parecem não ter entendido o alcance da mudança. »

Infelizmente, meu caro Dâmaso, estamos mesmo a chegar à Madeira...


outubro 05, 2004

A negação da besta

Alberto João Jardim ao Expresso: «Não sou uma besta».
É quando se nega a si própria que a criatura se define exemplarmente.

De olhares: Margot num flash

Por vezes, o bom cinema francês, remetido pelo circuito comercial dos multiplex à clandestinidade, chega-nos às mãos por vias travessas. Veja-se o caso de A Rainha Margot, de Patrice Chereau. Até há bem pouco tempo, não havia edição portuguesa em DVD desta muito bem contada história de Marguerite de Valois, irmã do rei Carlos I.


Pois bem, não foi sem grande surpresa que, ao passar por um quiosque de uma rua do Porto, deparo com a bela Adjani, ícone deste filme, encimada por uma tarja vermelha a dizer "flash!". Flash!? Verdadeiramente flashante é descobrir que "flash!" é nome de uma revista, daquelas que traz na capa Fernanda Serrano fotografada à noite a sair de um hotel. A Fnac precisa de aprender umas coisas com esta gente, que me pôs o DVD nas mãos por 8 euros. Um preço justo. A gente assim não se sente roubada, né?

Posto isto, é muito mau sintoma que uma obra do calibre de A Rainha Margot chegue ao mercado de vídeo por via de uma revista oca. Nesta, como em muitas matérias (cada vez mais, quase todas), o dinheiro fala mais alto. Os escaparates das Fnac e das Worten estão esmagados por oferta hollywoodesca, o que nos deixa, a nós, sem grandes hipóteses de escolha.

A história de Margot começa em 1572. Deve ser por isso.