O jornalismo nacional anda de cabeça perdida pela bola. A recente vitória do FCP na Liga dos Campeões e aproximação do Neuro 2004 incendeia, até à histeria, os ânimos dos profissionais da informação. E a procissão ainda vai no adro do relvado...
As televisões, incluindo a estatal, estão transformadas em tambores eufóricos de empolamento, amplificadores acéfalos, da «paixão» pelo desporto-rei. Emoção e espectáculo, espectáculo é emoção. Até à náusea. Nas rádios, os doutores de bancada têm prime time a toda a hora. E, nos jornais, até os de referência embalam nas mais pindéricas tiradas tablóide.
A edição de hoje do Expresso é disso um exemplo. Quis este jornal demonstrar que está também em força com o pessoal da bola, pá, e em especial com o Norte e os «dragões» e as suas vitórias que levantam a moral da pátria além-fronteiras. E vai daí, por baixo do título Expresso, aparece uma reprodução de um cachecol do FCP. Como quem diz, o mui lisboeta Expresso também vibra com a vitória do Bobby e do Tareco!
Numa imitação barata de jornal, como é o caso, por exemplo, do 24 Horas, a coisa desculpa-se. Num jornal como o Expresso, trata-se de um deslize indesculpável. Mas de atordoadas destas está a história recente da imprensa portuguesa cheia.
Da última vez que o Sporting venceu o campeonato, o DN apareceu com o título do próprio jornal pintado de verde. Na quarta-feira passada, o JN, numa das suas típicas tiradas popularuchas, punha em manchete um título absolutamente ridículo: «Sejam a nossa voz, queremos esta vitória». Que é isto?!
O futebol transformou-se num campo com regras à parte dentro do jornalismo. Tem direito a tratamento «vip» e suspensão de Código Deontológico. Em nome da «paixão», que transfigura verticalmente toda a gente, do mais simples estagiário ao mais empenhado director, vale tudo.
Ora, tudo isto não augura nada de bom para o futuro do jornalismo. Por este andar, Portugal deixa, um dia destes, de ter jornais para ler.