junho 02, 2004

De olhares: dois filmes quase

Dois filmes, vistos no passado fim-de-semana, cinema em casa, muito bons. E, no entanto... Elephant, de Gus Van Sant, e O Mar Olha Por Ti, realizado pelo japonês Kei Kumai, deixam-nos a sensação de que lhes falta um toque de génio.

Elephant venceu Cannes o ano passado. A crítica, em geral, incensou o filme. A fasquia das expectativas foi colocada bem alto.



O dia-a-dia dos alunos de uma escola secundária de Oregon, nos Estados Unidos, onde acaba por acontecer um massacre idêntico ao do liceu de Columbine, é-nos mostrado por Van Sant de uma forma sóbria, quase contemplativa, com planos únicos longos, demorados, atípicos para os cânones do cinema industrial norte-americano. O realizador parece querer revelar com a sua câmara aquilo que vai dentro da cabeça de adolescentes aparentemente 'normais'.

A narrativa, construída inteligentemente através de flashbacks curtos que se vão entrecruzando, é brilhante. Bate, pois, quase tudo certo neste filme. Excepto a sensação que fica no fim de que o final não deveria ser ali, porque falta ainda alguma coisa. Que a obra não está completa. Que, apesar da riqueza daquilo que nos foi mostrado e sugerido, havia melhor a fazer.

O Mar Olha Por Ti, cuja acção decorre num bordel japonês do século XIX, é também um belo filme. Resulta de um argumento, escrito por Akira Kurosawa, entregue a Kei Kumai para a realização. Kumai respeitou todas as indicações do falecido mestre, incluindo os desenhos por ele deixados para as cenas (Kurosawa era também pintor).

Bem filmado e muito bem fotografado, magistralmente contado, também aqui bate tudo certo. Mas, no final, fica-se igualmente com a sensação de que a fita seria outra se tivesse sido rodada sob o olhar mágico de quem filmou Os Sete Samurais, Ran ou o inultrapassável Sonhos.

Apesar destes parcos 'ses', Elephant e O Mar Olha Por Ti são dois filmes a não perder de vista.