Eis o Portugal do século XXI em todo o seu esplendor político na relva: o primeiro-ministro da nação, repita-se, o primeiro-ministro de um país da União Europeia, adia uma visita de Estado ao México para... poder ir à Alemanha assistir à final da Taça dos Campeões. Inacreditável, terceiro-mundista, paroquial, bacoca, oportunista e perigosamente populista é o mínimo que se pode dizer de uma decisão deste calibre por parte de quem comanda os destinos do país.
Justificar a decisão com a proximidade do Euro 2004 é desculpa esfarrapada que, manifestamente, só convence os tolos de bancada, que é coisa que, hélas, não falta por aí aos pontapés.
As eleições europeias estão à porta. E sempre que há eleições à vista, os políticos, mesmo os de topo na hierarquia do Estado, tendem a perder a postura. Fica sempre bem cavalgar a onda dos sucessos futeboleiros. Os políticos vampirizam a bola e esta, claro, em boa hora, cobra-lhes pelos honrosos serviços prestados à causa democrática. É assim na freguesia, no concelho, no distrito, nas ilhas. A futebolização do Estado espalha-se como uma epidemia.
Os deputados da nação também não se poupam a esforços para transformarem a sua própria imagem e a do Parlamento numa anedota. Alguns, como Fernando Gomes, que sempre bajulou Pinto da Costa, sobretudo no tempo em que era presidente da Câmara do Porto, já disseram que se estão a marimbar para a falta injustificada que lhes será marcada se forem à final. Outros representantes da nação, coitados, desesperam: não sabem se o FCP lhes vai mandar a côdea do convite. Estão ali que não se aguentam de ansiedade! Esta gente tem garantida imudidade parlamentar contra o carácter assassino do ridículo.
Tristes ministros, tristes deputados, pobre país estupidificado até à náusea pelas quatro linhas...