maio 19, 2004

Moore está de volta

O fantástico Michael Moore já pôs Cannes a arder. Com a estreia do seu filme Fahrenheit 9/11 e com as suas declarações a propósito das mais que prováveis ligações entre a muito texana família Bush e a muito saudita bin Laden.

Mesmo antes de ser visto por cá, Fahrenheit 9/11 é já um filme obrigatório. Na linha, dura, do fabuloso Bowling for Columbine, Moore põe a nu a óbvia estupidez estrutural do actual presidente do seu país, a fraude que constituiu a eleição do actual inquilino da Casa Branca e as perigosas ligações Bush-bin Laden. Sem papas na língua, sem medo nas imagens, ao seu bom estilo.

Desde logo, o filme torna-se tanto mais apetitoso quanto foi alvo da tentativa de censura nos EUA. A gigante Disney, pressionada pelos republicanos, quis impedir a distribuição da obra, com receio do impacto nas eleições presidenciais. Moore queixa-se de a própria Casa Branca ter tentado que o filme sequer chegasse a ser realizado.

Uma das denúncias de Moore, que quer, e muito bem, ajudar a correr com Bush da presidência, é de que duas dezenas de membros da família bin Laden foram autorizados a sair do país, de avião, nos dias que se seguiram ao ataque às torres gémeas.

Nem de propósito, e para que não se pense que estas suspeitas existem apenas na cabeça de Moore, anteontem à noite a SIC Notícias exibiu um documentário, feito por jornalistas norte-americanos, onde várias testemunhas apareciam a apontar no mesmo sentido: as ligações perigosas dos Bush aos bin Laden.

Tanto que as mesmas testemunhas manifestam estranheza pelo facto de, nos dois dias a seguir ao 11 de Setembro, vários voos para a Arábia Saudita terem sido autorizados. Nessa altura, todos os voos comerciais estavam proibidos nos EUA, a não ser os que tivessem autorização especial. Donde...

Os Bush, já se percebeu, têm montes de esqueletos no armário. E fazem tudo para que ninguém os abra. As pressões sobre os media norte-americanos parecem estar a surtir o efeito que a Casa Branca pretende: os jornalistas andam quase todos mansinhos e muito patrióticos em relação ao seu emprego e não querem meter-se no sarilho de mexer em certas ossadas. A bem da democracia, claro.

Se não forem kamikazes como Moore, a história presente fica, para mal dos cidadãos, parcialmente contada. Manca. Por isso, todo o apoio ao rapaz é pouco.