A televisão ameaça tornar-se um sufoco insuportável no século XXI. Ela já estava em muitos lados: no quarto, na sala, na cozinha, no corredor, na casa de banho, no sótão, no café, na salas de espera dos senhores doutores, nos ginásios, nos gabinetes, nas lojas de tudo quanto é negócio, nos bufetes, automóveis, comboios, restaurantes, nos centros comerciais, nas boutiques, nas discotecas e nos bares, até nalguns quiosques.
Poucos são os cafés onde hoje podemos entrar para tomar um café e ler sossegadamente um jornal sem ter de gramar com a gritaria dos comentadores da Sport TV ou com as palmas estridentes dos presentes em programas vazios de entretenimento. Em qualquer lado que entremos, lá está o pequeno ecrã no ar a exigir atenção, para que não nos esqueçamos de que ele existe e quer existir cada vez mais. Uma companhia permanente para quem já não sabe estar só.
O Expresso desta semana traz um artigo simultaneamente interessante e perturbante. Título: «Um deus chamado televisão». Fala-nos da intensificação dos esforços dos anunciantes para chegar, via TV, a todos os sítios possíveis onde haja povo-alvo. Nada escapa. A ideia é pôr caixinhas que mudaram o mundo também nos aviões, nos hipermercados, nas bombas de gasolina e onde mais se verá. A sede de vender é tremenda. Os fins (lucro) justificam todos os meios (disseminação maciça de televisores com conteúdos feitos à medida).
O ruído televisivo nos espaços privado e público prepara-se, portanto, para atingir pontos de saturação e insuportabilidade. Virá um dia em que não se poderá estar em lado algum sem que haja alguém a tentar impingir-nos «conteúdos» e respectivos anúncios. O barulho de fundo da pantalha será um continuum entre espaços.
Espera-nos a televisação total.