Há gestos que podem custar muito caro a um jornal. Sobretudo, se não forem devidamente explicados aos seus leitores.
Segundo notícias publicadas nalguns jornais, entre os quais o DN e o Diário Económico, a Direcção do Público terá decidido retirar uma notícia da secção Nacional «sobre o alegado não pagamento de uma coima fiscal pela ministra das Finanças» (DE). A decisão terá resultado de um contacto de Manuela Ferreira Leite com o director do diário, José Manuel Fernandes.
A mesma Direcção não terá informado a editora da respectiva secção, o que, desde logo, é má política. Tanto é assim que Ana Sá Lopes e a sua sub-editora se demitiram dos cargos. Fizeram bem.
Acto contínuo, o Conselho de Redacção emitiu comunicados em que fala de «acto de censura» por parte da Direcção.
Ora, embora nós, simples leitores (sou leitor diário do Público desde o número 1), não estejamos na posse de todos os dados que nos permitam ajuizar, de modo cabal, o que se passa, a suspeita fica no ar.
Somos tentados a pensar que a Direcção terá sucumbido à pressão directa da ministra e passou por cima das editoras. Tentados a pôr a hipótese de o Público, afinal, não se distinguir dos outros ao nível dos 'fretes'. Enfim, vêm-nos à memória os tristes telefonemas de Aznar para as redacções dos média espanhóis logo a seguir ao 11 de Março e que levaram o prestigiado El Pais a espalhar-se ao comprido, condenando, em manchete, a ETA pelos atentados.
Estas suspeitas são um perigo quando começam a germinar na cabeça dos leitores. Por isso, e dado que a questão põe em causa a própria credibilidade do jornal, era altura de a Direcção vir a terreno pôr tudo em pratos limpos. O director do El Pais, por exemplo, não teve pejo algum em reconhecer publicamente o erro pela manchete da ETA.
Como bem escreve Manuel Pinto no blogue Jornalismo e Comunicação, «a partir do momento em que uma editora com projecção pública se demite e em que um órgão como o Conselho de Redacção segue o mesmo caminho, parece-me que o assunto não é mais do foro interno. E a razão é que está posto em causa o contrato do jornal com os seus leitores.»
Tenha a palavra José Manuel Fernandes.