dezembro 14, 2003

O bowling de Michael Moore

Este filme-documentário-denúncia é, a todos os títulos, imperdível. Bowling for Columbine está agora disponível, pela mão da Atalanta, num DVD que, para além do documentário de duas horas de duração, reúne uma série de intervenções e entrevistas do realizador que nos permite construir um quadro mais apurado dos valores e das motivações que movem Moore a dar cabo do «sistema» dos States, pátria de uma violência diária desmedida, em grande parte baseada na livre proliferação de armas de todos os calibres. O documentário começa com a ida do próprio Moore a um banco onde a abertura de uma conta dá direito a uma oferta muito especial: uma arma. Num banco!

Recordam-se? Foi Michael Moore que subiu ao palco dos Oscares para dizer, de prémio da Academia na mão, «Shame on you, Mr Bush, shame on you!», a propósito da invasão do Iraque pelas tropas da «coligação» liderada pelos EUA. A pose frontal, por vezes brutal e directa, é a imagem de marca deste jornalista-realizador, um pesadelo de peso dos conservadores (e que conservadores inenarráveis!) norte-americanos. O actor Charlton Heston, presidente da mais importante associação de armas dos Estados Unidos, que o diga.

A tentação de seguir as pisadas que Moore dá na cultura de violência - histórica, estrutural - do seu país é grande. Ele utiliza o argumento e a sedução em doses iguais. É absolutamente demolidor no retrato que faz dos instintos de ataque e de defesa dos seus concidadãos. O ponto de partida, o «clique» que o fez avançar para este mergulho no lado negro e difícil de explicar da América, foi o já tristemente célebre tiroteio no liceu de Columbine.

Vale a pena. Vale mesmo a pena ficar acordado até às cinco da manhã a ver Bowling for Columbine de uma ponta à outra da América.