Iraque, um ano depois do desastre. As armas químicas que 'justificaram' uma guerra estúpida, insensata, irresponsável, interesseira, cega, oportunista, mentirosa, assassina, ilegal e, a todos os títulos, imoral, continuam por aparecer. A justificação desjustificou-se, peça a peça, mentira a mentira, gota a gota, por si própria.
Nos útimos doze meses, amontoaram-se as provas de que a invasão do Iraque só existiu porque as sinistras cabeças da administração Bush assim o entenderam. Por gula, teimosia e descomunal estupidez. Porque sim, há o petróleo e, além do mais, os rapazes gostam de jogar xadrez no Médio Oriente. Querem agora virá-lo do avesso, reescrevê-lo, estes iluminados.
Bush, indivíduo estruturalmente pateta, julgou que o resto do mundo é pelo menos tão levezinho quanto ele. Tirando os seus aliados Blair, Aznar, Barroso e alguns outros peões menores do tabuleiro internacional, enganou-se. Seríamos todos parvos do lado de cá e acreditaríamos todos que Bagdade era um antro de terroristas suicidas, ninho de víboras da Al Qaeda, ameaça iminente à douta civilização ocidental. Não era. Outras paragens o seriam.
Não havia armas de destruição maciça nem terroristas a dar com um pau. Mas há, lamentavelmente, dezenas de milhares de civis iraquianos mortos e um país na mais absoluta ruina.
A luta, legítima, contra o terrorismo foi, neste caso, um descomunal erro e um ainda maior embuste, que pode ficar muito caro ao Ocidente.
Aprenderão aquelas ocas cabeças conservadoras de Washington a lição? Obviamente, não.
O mundo é hoje um lugar muitíssimo mais inseguro do que era há doze meses atrás. Graças às cowboyadas de um presidente americano com queda para a brincadeira com fósforos, a Europa é hoje um continente à beira de um ataque de nervos. Não tarda nada, estará paranóica com a questão da segurança.
Seria o panorama actual uma inevitabilidade histórica? Um inelutável destino, traçado há muito por forças cósmicas? Nada menos certo. Se a hecatombe eleitoral que levou Bush ao poder não se tivesse verificado, se Al Gore estivesse hoje na Casa Branca, como deveria estar, muito provavelmente o mundo não teria chegado perto deste abismo.
«Tem as mãos cheias de sangue, senhor Blair. Vai demitir-se?» Esta pergunta foi feita por um jornalista ao primeiro-ministro britânico aquando do suicídio do cientista David Kelly. Esta mesma pergunta deveria ser colada, em letras gigantes, em frente à casa de todos os governantes que se «aliaram», marimbando-se para as Nações Unidas, na grande charada do Iraque.