Para amparar na perfeição o final da tarde de um dia de chuva, cinza e vento: Solo Piano, de Philip Glass.
março 31, 2004
março 29, 2004
Tudo bons rapazes
«Sete dezenas de companhias norte-americanas ganharam nos últimos dois anos contratos de oito mil milhões de dólares para trabalhar no Afeganistão e no Iraque. As mais beneficiadas têm evidentes contactos políticos junto da administração Bush.» Público, 29.03.04.
«Procurador-geral israelita recebe recomendação para indiciar Sharon por corrupção.» Público, 29.03.04.
«Suharto é o primeiro na lista dos dez mais corruptos do mundo. O Ocidente favoreceu e favorece práticas de corrupção nos países em desenvolvimento, denuncia organização não governamental.» Público, 29.03.04.
Mas, vá lá, haja réstias de esperança, que nem tudo é mau neste pobre e decadente planeta. A direita fracesa sofreu uma «derrota histórica» nas regionais, o Parlamento Europeu exige acesso «seguro e legal» das mulheres ao aborto, a Irlanda vai proibir fumar em bares e restaurantes. Porque, lá, ao contrário de cá, onde os porcos triunfam, «a saúde é prioritária em relação a outros interesses.»
«Procurador-geral israelita recebe recomendação para indiciar Sharon por corrupção.» Público, 29.03.04.
«Suharto é o primeiro na lista dos dez mais corruptos do mundo. O Ocidente favoreceu e favorece práticas de corrupção nos países em desenvolvimento, denuncia organização não governamental.» Público, 29.03.04.
Mas, vá lá, haja réstias de esperança, que nem tudo é mau neste pobre e decadente planeta. A direita fracesa sofreu uma «derrota histórica» nas regionais, o Parlamento Europeu exige acesso «seguro e legal» das mulheres ao aborto, a Irlanda vai proibir fumar em bares e restaurantes. Porque, lá, ao contrário de cá, onde os porcos triunfam, «a saúde é prioritária em relação a outros interesses.»
março 27, 2004
Gente gira
O dito 'jornalismo de referência' já teve, seguramente, melhores dias. Os que agora correm são de frequentes escorregadelas éticas e deontológicas ou de insuportáveis desvios para o lado da frivolidade, do fashion, do flash, do beautiful people. Sinais dos tempos. Maus, por sinal.
O divórcio entre duas vedetas do mundo do jornalismo vem hoje na capa do Expresso. Na capa do Expresso?! Sim, na capa do Expresso...
O divórcio entre duas vedetas do mundo do jornalismo vem hoje na capa do Expresso. Na capa do Expresso?! Sim, na capa do Expresso...
março 26, 2004
Chomsky na blogosfera
Ora aí está uma excelente notícia, dica de António Granado: Noam Chomsky tem agora o seu próprio blogue, o Turning the Tide.
A partir de agora, poderemos seguir passo a passo as opiniões do intelectual norte-americano mais odiado pelas elites bem-pensantes do seu próprio país, a começar pela generalidade dos media, de quem é um crítico impiedoso. Felizmente.
Chomsky tem esse enorme defeito de, primeiro, ser inteligente, e, segundo, pensar pela sua própria cabeça. Causa trremenda azia a muito boa gente, em especial à rapaziada mais estreita da direita. Falava e escrevia sobre Timor quando o assunto nem sequer era ainda causa em Portugal.
É um senhor muitíssimo bem-vindo à blogosfera.
A partir de agora, poderemos seguir passo a passo as opiniões do intelectual norte-americano mais odiado pelas elites bem-pensantes do seu próprio país, a começar pela generalidade dos media, de quem é um crítico impiedoso. Felizmente.
Chomsky tem esse enorme defeito de, primeiro, ser inteligente, e, segundo, pensar pela sua própria cabeça. Causa trremenda azia a muito boa gente, em especial à rapaziada mais estreita da direita. Falava e escrevia sobre Timor quando o assunto nem sequer era ainda causa em Portugal.
É um senhor muitíssimo bem-vindo à blogosfera.
Tempo da pressa
«Se não compreendermos o tempo, tornar-nos-emos as suas vítimas. 'O Tempo é uma divindade gentil', dizia Sófocles. Talvez o fosse para ele. Hoje em dia, trabalha a chicote.»
James Gleick, Cada vez mais rápido.
março 23, 2004
Dueto bombástico
Há dois perigosos bombistas à solta que mereciam ser levados de imediato para Guantanamo. Um está em Washington. O outro, em Telavive. Por sinal, são muito amigos.
março 22, 2004
JornalismoPortoNet
Eis uma experiência universitária a seguir com atenção, também pelas empresas jornalísticas: o jornal online do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Nasceu hoje, é produzido e mantido por alunos e docentes do curso, funciona no espaço de uma redacção digital e chama-se JornalismoPortoNet.
Era uma vez um canal
Houve um tempo em que, ao fim do dia, estacar o zapping no Canal 2 era frequente. Havia o Acontece. Havia os filmes, os bons ciclos da 2, espaço único na televisão portuguesa para escapar à roça mental dos filmes produzidos pelo Tio Sam.
Era também no antigo Canal 2 que se podia assistir ao único telejornal civilizado do país, no qual as notícias eram dadas sem fanfarronice ou histeria, com tempo e contexto, e, milagre na caixa que mudou o mundo, os entrevistados podiam respirar. E nós, telespectadores, também. Pois bem, tudo o que era bom esfumou-se.
O telejornal é agora dado a correr, depressinha, não vá o pivot perder o comboio para casa. Aquele programa de Mota Ribeiro, supostamente substituto do Acontece, mama mia!. Os bons filmes foram postos na prateleira, não vá colidirem com a moral e os bons costumes do nosso beato governo e da nossa santa pátria católica. Enfim, resta-nos o consolo de saber que a TVE, a televisão do estado Popular, perdão, espanhol, está em bastante pior estado civilizacional.
Hoje em dia, o comando remoto cá de casa também passa a correr, a correr muito, pelo segundo canal.
Era também no antigo Canal 2 que se podia assistir ao único telejornal civilizado do país, no qual as notícias eram dadas sem fanfarronice ou histeria, com tempo e contexto, e, milagre na caixa que mudou o mundo, os entrevistados podiam respirar. E nós, telespectadores, também. Pois bem, tudo o que era bom esfumou-se.
O telejornal é agora dado a correr, depressinha, não vá o pivot perder o comboio para casa. Aquele programa de Mota Ribeiro, supostamente substituto do Acontece, mama mia!. Os bons filmes foram postos na prateleira, não vá colidirem com a moral e os bons costumes do nosso beato governo e da nossa santa pátria católica. Enfim, resta-nos o consolo de saber que a TVE, a televisão do estado Popular, perdão, espanhol, está em bastante pior estado civilizacional.
Hoje em dia, o comando remoto cá de casa também passa a correr, a correr muito, pelo segundo canal.
março 21, 2004
De mentira em mentira...
Iraque, um ano depois do desastre. As armas químicas que 'justificaram' uma guerra estúpida, insensata, irresponsável, interesseira, cega, oportunista, mentirosa, assassina, ilegal e, a todos os títulos, imoral, continuam por aparecer. A justificação desjustificou-se, peça a peça, mentira a mentira, gota a gota, por si própria.
Nos útimos doze meses, amontoaram-se as provas de que a invasão do Iraque só existiu porque as sinistras cabeças da administração Bush assim o entenderam. Por gula, teimosia e descomunal estupidez. Porque sim, há o petróleo e, além do mais, os rapazes gostam de jogar xadrez no Médio Oriente. Querem agora virá-lo do avesso, reescrevê-lo, estes iluminados.
Bush, indivíduo estruturalmente pateta, julgou que o resto do mundo é pelo menos tão levezinho quanto ele. Tirando os seus aliados Blair, Aznar, Barroso e alguns outros peões menores do tabuleiro internacional, enganou-se. Seríamos todos parvos do lado de cá e acreditaríamos todos que Bagdade era um antro de terroristas suicidas, ninho de víboras da Al Qaeda, ameaça iminente à douta civilização ocidental. Não era. Outras paragens o seriam.
Não havia armas de destruição maciça nem terroristas a dar com um pau. Mas há, lamentavelmente, dezenas de milhares de civis iraquianos mortos e um país na mais absoluta ruina.
A luta, legítima, contra o terrorismo foi, neste caso, um descomunal erro e um ainda maior embuste, que pode ficar muito caro ao Ocidente.
Aprenderão aquelas ocas cabeças conservadoras de Washington a lição? Obviamente, não.
O mundo é hoje um lugar muitíssimo mais inseguro do que era há doze meses atrás. Graças às cowboyadas de um presidente americano com queda para a brincadeira com fósforos, a Europa é hoje um continente à beira de um ataque de nervos. Não tarda nada, estará paranóica com a questão da segurança.
Seria o panorama actual uma inevitabilidade histórica? Um inelutável destino, traçado há muito por forças cósmicas? Nada menos certo. Se a hecatombe eleitoral que levou Bush ao poder não se tivesse verificado, se Al Gore estivesse hoje na Casa Branca, como deveria estar, muito provavelmente o mundo não teria chegado perto deste abismo.
«Tem as mãos cheias de sangue, senhor Blair. Vai demitir-se?» Esta pergunta foi feita por um jornalista ao primeiro-ministro britânico aquando do suicídio do cientista David Kelly. Esta mesma pergunta deveria ser colada, em letras gigantes, em frente à casa de todos os governantes que se «aliaram», marimbando-se para as Nações Unidas, na grande charada do Iraque.
Nos útimos doze meses, amontoaram-se as provas de que a invasão do Iraque só existiu porque as sinistras cabeças da administração Bush assim o entenderam. Por gula, teimosia e descomunal estupidez. Porque sim, há o petróleo e, além do mais, os rapazes gostam de jogar xadrez no Médio Oriente. Querem agora virá-lo do avesso, reescrevê-lo, estes iluminados.
Bush, indivíduo estruturalmente pateta, julgou que o resto do mundo é pelo menos tão levezinho quanto ele. Tirando os seus aliados Blair, Aznar, Barroso e alguns outros peões menores do tabuleiro internacional, enganou-se. Seríamos todos parvos do lado de cá e acreditaríamos todos que Bagdade era um antro de terroristas suicidas, ninho de víboras da Al Qaeda, ameaça iminente à douta civilização ocidental. Não era. Outras paragens o seriam.
Não havia armas de destruição maciça nem terroristas a dar com um pau. Mas há, lamentavelmente, dezenas de milhares de civis iraquianos mortos e um país na mais absoluta ruina.
A luta, legítima, contra o terrorismo foi, neste caso, um descomunal erro e um ainda maior embuste, que pode ficar muito caro ao Ocidente.
Aprenderão aquelas ocas cabeças conservadoras de Washington a lição? Obviamente, não.
O mundo é hoje um lugar muitíssimo mais inseguro do que era há doze meses atrás. Graças às cowboyadas de um presidente americano com queda para a brincadeira com fósforos, a Europa é hoje um continente à beira de um ataque de nervos. Não tarda nada, estará paranóica com a questão da segurança.
Seria o panorama actual uma inevitabilidade histórica? Um inelutável destino, traçado há muito por forças cósmicas? Nada menos certo. Se a hecatombe eleitoral que levou Bush ao poder não se tivesse verificado, se Al Gore estivesse hoje na Casa Branca, como deveria estar, muito provavelmente o mundo não teria chegado perto deste abismo.
«Tem as mãos cheias de sangue, senhor Blair. Vai demitir-se?» Esta pergunta foi feita por um jornalista ao primeiro-ministro britânico aquando do suicídio do cientista David Kelly. Esta mesma pergunta deveria ser colada, em letras gigantes, em frente à casa de todos os governantes que se «aliaram», marimbando-se para as Nações Unidas, na grande charada do Iraque.
março 15, 2004
Foi-se o bigodes
Depois de uma enorme tragédia, uma conquista democrática gigante: a Espanha viu-se livre de um dos bigodes mais tristemente conservadores da Europa.
março 14, 2004
De ouvido: casamento feliz
Se o filme Casamento debaixo de chuva é bom, a banda sonora não lhe fica atrás. Bem pelo contrário. Logo às primeiras músicas, somos transportados de imediato para a paleta de cores e gestos que Mira Nair nos havia pintado no ecrã. E aqueles planos fabulosos, as pinceladas fugazes sobre Nova Deli...
Mychael Danna produziu um banda sonora que se aguenta perfeitamente por si só. É um belo disco. Mistura tradicional com recente, acústico com sintetizado, de uma forma magistral. Recupera, num dos temas, o fabuloso paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan e termina com a versão remix de três dos temas. Casamento debaixo de chuva, filme e banda sonora, é um caso de relação bem sucedida.
Mychael Danna produziu um banda sonora que se aguenta perfeitamente por si só. É um belo disco. Mistura tradicional com recente, acústico com sintetizado, de uma forma magistral. Recupera, num dos temas, o fabuloso paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan e termina com a versão remix de três dos temas. Casamento debaixo de chuva, filme e banda sonora, é um caso de relação bem sucedida.
Com os espanhóis
O Travessias é uma pequena gota no imenso oceano do ciberespaço. Mas também esta gota corre com as lágrimas dos espanhóis.
março 11, 2004
Monocórdicos jornais
Uma vista de olhos pelas edições online dos principais media noticiosos portugueses serve para confirmar a decepção de sempre. Perante um acontecimento de enorme impacto, como foi o atentado terrorista em Madrid, a maior parte dos sites responde com páginas monocórdicas de texto, muito texto (quase sempre colado de agências), poucas imagens, menos ainda gráficos explicativos animados, escasso vídeo e pouco som. Sites de televisão propõem 'clips' de telejornal, meio desgarrados do resto do material informativo.
A exploração das potencialidades narrativas da Web, pelas quais passa o uso integrado do hipertexto, do multimédia, da criação de espaços de debate com e entre a audiência, é, para não dizer mais, muito fraca. Dá para ver que do outro lado do ecrã não há meios suficientes para fazer melhor.
A desilusão é ainda maior em sítios nados e criados na Web, como o Diário Digital e o Portugal Diário. Por natureza, tinham a obrigação de ir mais longe, mas, como hoje se viu, pouco se conseguem distinguir do marasmo geral. É pena.
O ciberjornalismo português permanece, em boa medida, um palmo à frente da estaca zero.
A exploração das potencialidades narrativas da Web, pelas quais passa o uso integrado do hipertexto, do multimédia, da criação de espaços de debate com e entre a audiência, é, para não dizer mais, muito fraca. Dá para ver que do outro lado do ecrã não há meios suficientes para fazer melhor.
A desilusão é ainda maior em sítios nados e criados na Web, como o Diário Digital e o Portugal Diário. Por natureza, tinham a obrigação de ir mais longe, mas, como hoje se viu, pouco se conseguem distinguir do marasmo geral. É pena.
O ciberjornalismo português permanece, em boa medida, um palmo à frente da estaca zero.
março 10, 2004
De olhares: Apocalipse definitivo
Na sua versão integral, Apocalipse Now não é um filme sobre a guerra do Vietname. Longe disso. É o filme sobre a guerra do Vietname.
março 07, 2004
De olhares: o ópio das guerras
Dois filmes, vistos em casa recentemente, mostram-nos a face cruel, arrogante, cínica, obtusa e bacoca do velho império britânico.
Lagaan: Era uma vez na Índia é, felizmente para nós, contada pelo lado dos indianos. Ashutosh Gowariker prende-nos ao ecrã com a história de um oficial, daqueles very british bestas, que encarna, do alto da sua ponderosa imbecilidade, a forma leviana como o «império» brincava - no caso, com apostas no absurdo jogo do crikett - com a vida de pessoas que viviam sossegadas na sua terra até terem o privilégio de serem invadidas e dominadas pelos esfaimados ingleses.
É uma história de opressão e humilhação, passada no século XIX. Complete-se este quadro com a revisão da obra-prima cinematográfica que é Gandhi para se ficar com uma ideia ainda mais apurada sobre as brilhantes conquistas civilizacionais e culturais do british empire.
O século XIX serve também de pano de fundo à acção de A Guerra do Ópio, filme chinês, realizado por Xie Jin, onde a gula comercial inglesa volta a ter destaque, desta vez por causa do negócio do ópio, contra o qual o imperador do Império do Meio resolveu lutar. Choque de culturas, choque de histórias (sendo que uma delas, a da China, tem mais de cinco mil anos...), choque, enfim, de poderes. Na altura, como hoje, podia mais quem tinha melhores canhões. Foi nesta guerra que a China perdeu Hong Kong.
E as gerações passam , e os governantes mudam, e as democracias crescem e os erros repetem-se e volta tudo ao princípio sem fim. Dantes era ópio, hoje é o petróleo, amanhã será outro perigo qualquer. Lagaan e A Guerra do Ópio dão vida, com belas cores, a uma verdade cansada de velha: a de que a estupidez dos homens é infinita.
Lagaan: Era uma vez na Índia é, felizmente para nós, contada pelo lado dos indianos. Ashutosh Gowariker prende-nos ao ecrã com a história de um oficial, daqueles very british bestas, que encarna, do alto da sua ponderosa imbecilidade, a forma leviana como o «império» brincava - no caso, com apostas no absurdo jogo do crikett - com a vida de pessoas que viviam sossegadas na sua terra até terem o privilégio de serem invadidas e dominadas pelos esfaimados ingleses.
É uma história de opressão e humilhação, passada no século XIX. Complete-se este quadro com a revisão da obra-prima cinematográfica que é Gandhi para se ficar com uma ideia ainda mais apurada sobre as brilhantes conquistas civilizacionais e culturais do british empire.
O século XIX serve também de pano de fundo à acção de A Guerra do Ópio, filme chinês, realizado por Xie Jin, onde a gula comercial inglesa volta a ter destaque, desta vez por causa do negócio do ópio, contra o qual o imperador do Império do Meio resolveu lutar. Choque de culturas, choque de histórias (sendo que uma delas, a da China, tem mais de cinco mil anos...), choque, enfim, de poderes. Na altura, como hoje, podia mais quem tinha melhores canhões. Foi nesta guerra que a China perdeu Hong Kong.
E as gerações passam , e os governantes mudam, e as democracias crescem e os erros repetem-se e volta tudo ao princípio sem fim. Dantes era ópio, hoje é o petróleo, amanhã será outro perigo qualquer. Lagaan e A Guerra do Ópio dão vida, com belas cores, a uma verdade cansada de velha: a de que a estupidez dos homens é infinita.
março 05, 2004
Rádio nostalgia
Para os trintões e meio de hoje, pelo menos aqueles que no início da década de 80 do século passado não estavam retirados num qualquer mosteiro, não é sem um toquezinho de nostalgia que ouvem na rádio, de vez em quando, os Spandau Ballet, os Duran Duran, os The Cure, Culture Club, Supertramp, Police, Echo & the Bunnymen, ABC, Kim Wilde, Blondie, Toto, Talk Talk, Smiths, Alphaville, a par de alguns imortais, como os U2, David Bowie, Springsteen e os Stones.
Mas as nossas rádios, comerciais, estão impossíveis de ouvir. Entre relatos de futebol e bacoradas de treinadores na TSF e na Antena 1, missas por encomenda e sermões requentados de 30 segundos na Renascença, o matraquear constante dos últimos «hits» na Comercial e na RFM, sobra pouco de jeito para ouvir. Alguma nostalgia pode ser compensada no Rádio Clube Português, no velho Oceano Pacífico e pouco mais. O nosso FM, tirando a Antena 2, é uma desgraça pegada.
Verdadeiras alternativas estão é na Internet. Aqui, sim, pode-se fugir à obtusa massificação comercial, quando não popularucha, das rádios. Exemplo disso é o sítio AccuRadio. Aqui tem nostalgia dos 80 para dar e vender, mas também tem jazz à escolha, música céltica, rock britânico actual, pop, country, etc. E, aqui, quem manda é o ouvinte.
Mas as nossas rádios, comerciais, estão impossíveis de ouvir. Entre relatos de futebol e bacoradas de treinadores na TSF e na Antena 1, missas por encomenda e sermões requentados de 30 segundos na Renascença, o matraquear constante dos últimos «hits» na Comercial e na RFM, sobra pouco de jeito para ouvir. Alguma nostalgia pode ser compensada no Rádio Clube Português, no velho Oceano Pacífico e pouco mais. O nosso FM, tirando a Antena 2, é uma desgraça pegada.
Verdadeiras alternativas estão é na Internet. Aqui, sim, pode-se fugir à obtusa massificação comercial, quando não popularucha, das rádios. Exemplo disso é o sítio AccuRadio. Aqui tem nostalgia dos 80 para dar e vender, mas também tem jazz à escolha, música céltica, rock britânico actual, pop, country, etc. E, aqui, quem manda é o ouvinte.
março 04, 2004
Na morte de Boorstin
O jornalismo habitua-nos a lidar com más notícias todos os dias. Aliás, boa parte do quotidiano jornalístico é mergulhado na atmosfera pesada das más notícias. Mas há umas mais más do que outras. Morreu o historiador Daniel Boorstin.
Há autores com quem passamos tantas noites, noite adentro, página após página, 100, 200, 400, que, de certa forma, eles se tornam cá de casa. A morte de Boorstin apanha-me quase no final da leitura do seu colossal Os Descobridores. A nossa concepção do mundo e do homem muda muito depois de passarmos por esta montanha de saber compilada em papel. O velho historiador era também um belo contador da história e das histórias da Humanidade, do nosso longo e sinuoso percurso.
Outra obra marcante dele, imperdível, é Os Pensadores, ou a história da constante busca do homem para compreender o seu mundo, com incidência nos filósofos.
Boorstin deixa uma obra monumental. Terá enriquecido a cabeça de muita gente por esse planeta fora. Mas a sua morte não fará, certamente, notícia no telejornal.
Na notícia sobre a morte de Boorstin, o Monde recorda uma bela frase do autor: «O maior obstáculo à descoberta não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento.»
março 01, 2004
Cancros
Nada como começar o mês, iniciar o dia, vendo o autarca Avelino Ferreira Torres na televisão aos pontapés em cadeiras, espumando, insultando o árbitro com urros, em cima do relvado do Estádio Avelino Ferreira Torres. O país autárquico troglodita em todo o seu horroroso esplendor exibe-se, sem pudor, perante nós, telespectadores de uma democracia cancerosa. Cheia de tumores deste tipo caceteiro, trauliteiro, populista e, em última análise, perigoso.
Ficámos a saber: Luís Filipe Menezes e Narciso Miranda vão lá ao tribunal como testemunhas abonatórias deste verdadeiro artista do Marco. O cancro populista alastra, implacavelmente.
Subscrever:
Mensagens (Atom)