O lapso de tempo entre a saída de Marcelo da TVI e o relatório agora apresentado pela Alta Autoridade para a Comunicação Social é, a vários títulos, histórico para a comunicação social em Portugal. A partir daqui, algumas coisas nunca serão como dantes. E ainda bem.
O caso Marcelo acabou por ser o detonador de várias bombas que estavam, há muito, à espera de rebentar. E só não explodiram antes porque os media sempre tiveram o cuidado de não apontar o dedo a si próprios e também o de dificultarem a vida a quem o quisesse fazer, tanto a partir de dentro, como de fora.
Deste curto período, a TVI sai chamuscada. Paes do Amaral ficou com a sua imagem de empresário manchada pelo calculismo e oportunismo e, diga-se, por alguma ingenuidade demonstrada na gestão deste imbróglio.
O governo, se já andava a dar canhoadas nos pés a toda a hora, enterrou-se até ao pescoço com as "bocas" infelizes de Gomes da Silva e de Morais Sarmento. Este passou a ser o governo da "censura" e do "controlo" da comunicação social, o governo da colocação dos seus "boys" em jornais, rádios e na televisão pública. A demissão, em bloco, da direcção da RTP é uma espécie de corolário lógico destas semanas loucas. Acresce que Santana e os seus muchachos fizeram tudo isto com um inacreditável amadorismo. Das nódoas desta barraca, não se livram tão cedo.
Mas quem, talvez, sai pior na fotografia é a PT. Cometeu muitos erros em muito pouco tempo, agravou-os, aos olhos de toda a gente, de forma grosseira (a forma como foram demitidos Granadeiro e Fernando Lima e o "caso" Clara Ferreira Alves, por exemplo), permitindo que passasse a ser olhada como coutada do governo. Tanto que agora, e bem, a Alta Autoridade vem propor que a PT venda os seus media para acabar com as promiscuidades. Há um pequeno problema: as eleições vêm aí.
Para os cidadãos que se querem esclarecidos, desta história ficou também um boa moral: é preciso ter muito cuidado com as cores que as notícias trazem atrás de si.