Brokeback Mountain, o tal filme que o cowboy Bush já disse que não vai ver, é de registo suave. Não aquece muito, mas também não arrefece por aí além.
Para a imensa América puritana, será uma obra radicalmente intragável, esta de Ang Lee. Para o mundo cinéfilo que tenha visto Querelle, de Fassbinder, por exemplo, o forte candidato aos oscars deste ano é perfeitamente inofensivo.
Brokeback vale pelo desempenho convicente dos dois principais protagonistas, pelo argumento interessante e, sobretudo, pela fina ironia de colocar dois cowboys durões do Wyoming, que vieram a casar e a ter filhos com as respectivas mulheres, a transar no meio da montanha num romance que atravessou duas décadas na clandestinidade. Acresce que a montanha em si é deslumbrante.
E pronto, o resto vai servir para aquecer a noite dos oscars e provocar montes de sorrisinhos amarelos de incomodidade aparvalhada.