O espectáculo (concerto? performance?) de Laurie Anderson no Teatro Nacional São João, no Porto, foi uma verdadeira festa, não apenas para os ouvidos, mas em todos os sentidos. Ela entrou em palco vestida de negro. Ninguém bateu palmas. Sentou-se numa poltrona rodeada por um chão coberto de velas e começou a contar as suas histórias.
Laurie é uma espécie de extra-terrestre no panorama musical contemporâneo. Mistura, alegre e irreverentemente, linguagens diversas, dando-lhes uma roupagem nova e inesperada, por vezes recorrendo a uma interessante panóplia de sintetizadores e computadores. Ela própria diz gostar de experimentar. E tem-no feito, sempre, desde o seu primeiro álbum, Big Science.
Ao Porto, trouxe-nos, para além do imenso talento e presença magnética em palco, uma vintena de histórias sobre "o fim da Lua", a partir da experiência de ter sido, durante algum tempo, artista-residente na NASA. O tom do concerto, com histórias faladas e música de violino sintetizado pelo meio, lembra um dos mais curiosos discos dela, The Ugly One With the Jewels, de 1995.
Mas nem só do lado escuro da Lua, dos astronautas, do tempo, das estrelas, de Marte falou (cantou?) esta nova-iorquina muito especial. Pelo meio das histórias surgia o espectro dos ataques às torres gémeas, o medo face ao perigo "que chega de cima", a paranóia securitária. Aparecia também o amor, a desilusão, a incomunicação, a luz, o absurdo, a sua estimada cadela Lolabelle, os pequenos nadas de todos os dias. Nadas? Só mesmo ela para dar, aparentemente sem sentido, um sentido a coisas tão diferentes.
Laurie Anderson é do outro mundo.