setembro 17, 2004

Cá se fazem, cá se pagam

A 16 de Julho passado, pouco depois de Santana Lopes ter escolhido as vedetas do seu governo, o Travessias, não sem uma pontinha de malandrice, perguntava: «E o Luís Delgado, dr. Santana? O tachinho para o Luís Delgado? Vossa Excelência esqueceu-se?»

Como se pode ver pelas notícias desta semana, Santana não se esqueceu, não senhor. Apenas dois meses depois, Luís Delgado, homem assumido de direita, mimoseado por alguns com o epíteto de "talibã de direita", tal a radicalidade benévola com que defende Bush, a invasão do Iraque, os governos e as políticas de direita, e, mais recentemente, a própria figura de Santana, é o novíssimo presidente-executivo da Lusomundo Media, substituindo no cargo Henrique Granadeiro, que diz sair «desgostoso e com mágoa». Leia-se, sai empurrado, a contragosto. É de esperar que ninguém nos venha explicar porquê. Certo?

Bom, concedamos, ainda assim, à Lusomundo o benefício da dúvida. Partamos do pio princípio de que a nomeação de Delgado é por pura competência profissional do mesmo e não por conveniência política de quem está no governo. Mas basta olhar para a nova composição do Conselho de Administração para se perder qualquer ilusão quanto à independência política deste importante grupo de comunicação social, que detém títulos como o JN, DN e TSF, entre outros: estão lá dois ex-ministros de Cavaco Silva (João de Deus Pinheiro e Silva Peneda). Estas duas figuras gradas do PSD devem perceber tanto de comunicação social em geral e de jornalismo em particular como eu percebo de física quântica. Mas, pronto, em terra de cegos basta saber "gerir" a coisa.

Este tipo de "mudanças estratégicas" em grupos de comunicação social que concentram tantos media influentes no país deveriam preocupar todos aqueles que se preocupam com o bom, e verdadeiramente livre, funcionamento de um dos pilares fundamentais das sociedades democráticas, isto é, a própria comunicação social. Mas não. Parece tudo meio anestesiado. Para os partidos políticos da oposição, a Alta Autoridade para a Comunicação Social (ainda existe?), os órgãos representantivos dos jornalistas, os próprios jornalistas, os cidadãos, está tudo bem. Deixa andar. Arons de Carvalho lá protestou sem grandes ondas. Artur Santos Silva mostrou-se muito chateado com a saída de Granadeiro. E pouco mais.

Mas também de um país que tem Santana Lopes como primeiro-ministro e Portas como ministro (por amor de Deus!), que se pode esperar? Milagres?

Ligações:
Santos Silva contesta decisão da Lusomundo
PS contra Luís Delgado na Lusomundo Media