Ao convidar Santana Lopes a formar governo, Sampaio dá um precioso contributo para o aprofundar do cepticismo crescente dos cidadãos esclarecidos em relação ao sistema político democrático português.
Alguém com o perfil de Santana Lopes não pode, pura e simplesmente, chegar a primeiro-ministro de um país que se quer civilizado e minimamente credível, por muito que a Constituição e o entendimento que o presidente da República faz dos seus poderes o autorize.
Além do mais, o processo de subida de Santana a primeiro-ministro foi tudo menos democraticamente legítimo. É um puro golpe de secretaria, para utilizar uma expressão mais suave do que a verberada pela ministra das Finanças, que falou em «golpe de estado».
A democracia portuguesa, que tanta pancada tem aguentado por parte de muitos 'agentes' políticos de refinada mediocridade, acaba de levar um valente pontapé no rabo. Resta-nos o consolo, e a sorte, de João Jardim não ser, por acaso, o vice-presidente do PSD...
Como diria Norberto Bobbio, o excesso de democracia pode matar a democracia. O desastre Santana/Portas é claramente excessivo. Bandeira a meia haste, por favor.