Temos realizador. Há muito que Kiyoshi Kurosawa é apreciado por esse mundo cinéfilo fora. Os Cahiers du Cinema apontam-no como um dos maiores valores do actual cinema japonês. Sonata de Tóquio, salvo erro a primeira obra deste realizador editada em DVD em Portugal, confirma-o.
Kurosawa pega num tema muito actual, o desemprego, e mostra-nos, num registo simultaneamente contido e minucioso, o grau de devastação que pode provocar no seio de uma família: o desfazer de laços, o estilhaçar de personalidades, o minar da auto-estima, o extremar dos conflitos. O mergulho das personagens numa espiral de auto-destruição que, não poucas vezes, conduz ao suicídio.
Este não é um filme confortável.
Quando as personagens adultas da família - o pai, a mãe - mergulham no abismo, perguntam, lá do fundo do desespero: ainda é possível começar de novo? Talvez esta seja mesmo a pergunta-chave de todo o filme.
Kurosawa sai deste pesadelo, que, afinal, é hoje o inferno de sociedades inteiras, pela porta da reconciliação. Uma reconciliação serena. Sem palavras ou gestos lancinantes. A família recompõe-se. Cola os cacos. A música nas mãos de um filho-prodígio acaba por ajudar nesse milagre.
Debussy, Claire de Lune. Final feliz?
A ver:
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