Graças ao mundo, os caminhos de Bruce Chatwin, viajante infatigável, escritor talentoso, e de Werner Herzog, realizador destemido e, em bom rigor, um pouco louco, genialmente louco, cruzaram-se.
Uma vez, foi no Gana, onde Herzog rodava o fantástico Cobra Verde, filme baseado no romance O Vice-Rei de Ajudá, de Chatwin. O escritor inglês deixou contadas, num capítulo do livro (póstumo) O que faço eu aqui, as inúmeras peripécias de Herzog naquele país africano.
A páginas tantas, percebe-se por que Chatwin e Herzog tinham tanto em comum:
«(Herzog) Era também a única pessoa com quem podia conversar de igual para igual sobre o que eu chamaria o aspecto sacramental da marcha. Partilhávamos a crença de que o andar não é uma simples terapia, mas uma actividade poética capaz de curar o mundo dos seus males. Herzog resume o que pensa do assunto através de uma afirmação definitiva: "Andar é uma virtude, o turismo é um pecado mortal".»
Herzog levava isto muito a sério: um dia, ao saber que Lotte Eisner, uma das fundadoras da Cinemateca francesa, estava a morrer, pôs-se a caminho a pé, de Munique a Paris, «convencido de que daquela maneira a poderia curar. Quando chegou ao apartamento de Lotte, ela já se sentia melhor e viveu ainda uma dezena de anos.»
Conhecer esta faceta do realizador alemão é fundamental para se perceber o seu cinema grandioso.