Beethoven morreu no dia 26 de Março de 1827, fez anteontem 180 anos. Chamavam-lhe "a besta". Tinha mau feitio. Abençoado mau génio, que nos deixou música divina para a eternidade.
Coincidência ou não, acaba de ser editado em DVD o filme Corrigindo Beethoven, da realizadora polaca Agnieszka Holland, que chegou a trabalhar com Kieslowski na trilogia Três Cores.
Holland não fez um filme brilhante, mas conseguiu algumas passagens dignas de registo. Ed Harris compôs um Beethoven credível, mas Gary Oldman (até pelo seu natural mau humor) foi mais convincente em Immortal Beloved, de Bernard Rose (1994).
Holland revela-nos os extremos do compositor alemão em final de vida, surdo, inconformado com esta sua sorte, definitivamente zangado com Deus. Um Beethoven para além do mito, demasiadamente humano, afinal.
Ira: «A minha religião é a solidão!», grita Beethoven para a assustada jovem copiadora (e correctora) das suas partituras da 9ª sinfonia.
Doçura, na frase mais reveladora de todo o filme: «A música é a linguagem de Deus. Os músicos estão tão próximos de Deus quanto é possível aos homens. Ouvimos a Sua voz. Lemos-Lhe os lábios.»
O excerto que se segue corresponde ao clímax de Corrigindo Beethoven: a estreia, em Viena, da celebérrima 9ª, que o próprio Beethoven insistiu em dirigir, surdo como estava, com a ajuda da sua copista. Um pedaço de génio em estado puro.