Escapar ao punho de aço da Califórnia passa hoje por procurar espaços alternativos. Em termos de salas de cinema, há poucos. Nas televisões, idem. O DVD, ainda, e também, é dominado pelas americanadas de consumo imediato.
Mas, aos poucos, lá vão aparecendo algumas obras, dignas da maior atenção. Cinema de autor. Filmes de outras línguas, diferentes linguagens. De outros ritmos, cores e tempos. Filmes como Abril despedaçado, do brasileiro Walter Salles. Passa quase despercebido, esmagado por prateleiras gordas de The Matrix ou de comédias românticas, histórias que apenas se repetem. E repetem. E tornam a enjoar.
Filmes como Lagaan: Era uma vez na Índia ou Casamento debaixo de chuva são para ver. Obrigatório. Quem fala deles? Quem os promove por cá em grandes outdoors ou spots televisivos? É proibido sacudir grandes fitas destas com um preconceituoso «bolas...filmes indianos...» É procurá-los bem, a estes DVD, nas catacumbas das FNAC, por exemplo.
Rever, pela mão da Atalanta, a fabulosa trilogia do italiano Nanni Moretti (Abril, O quarto do filho, Querido diário) e suspirar por tudo aquilo que já devia cá estar e não está e se calhar tão cedo não vem, nem sequer aparece na TV, de Fellini, Pasolini, Kieslowski, Chen Kaige, Kurosawa, Oshima, Angelopoulos, Kar-Wai, chineses, mexicanos, russos, holandeses, suecos, africanos, iranianos, afegãos, turcos, japoneses, tantos e diversos que não chegam a ver a luz do escuro do cinema por ela estar toda ofuscada pelos holofotes de Hollywood.
Chegar ao outro cinema é hoje uma paixão de artesãos.