Bush quer proibir casamentos entre homossexuais e defende a abstinência sexual e o regresso à «família» e aos bons costumes, de preferência iguais aos seus. Sonha com uma moral planetária Made in America. Grotesco. O artista governador da Califórnia, outro erro catastrófico de casting democrático, também gosta da ideia.
O desgraçado do papa diz aos africanos para se matarem aos milhões de sida, pois o preservativo é pecado. Aznar, conservador passadista, vai impor a religião católica nas escolas à viva força do obscurantismo religioso. Saudades de Franco? A Chirac, deu-lhe para a proibição do véu, com resultados que ainda se estão para ver. Blair olha todos os dias ao espelho na esperança de descobrir, lá no fundo, o seu reflexo.
Sharon, rodeado de falcões descerebrados e outros extremistas cegos, tem cada vez mais guarda-costas para lhe protegerem o bem mais preciso que tem na cabeça: o seu neurónio. Castro, esclerosado, aperta o torniquete de todas as liberdades até morrer, um dia destes, de remorsos com ataque cardíaco. Até Lula está menos popular. O sinistro regime do Irão atira os reformadores pela borda fora, ficam os fanáticos. Todos os regimes governados por religiosos fundamentalistas, fanatizam-se ainda mais, com a preciosa ajuda dos States. Sung júnior, de tanto implodir a Coreia do Norte, ainda rebenta com ela. Putin não governa bêbado de vodka, mas parece ser mais uma história mal contada, das muitas que a Rússia tem. Veremos o que acontece no enorme desastre chamado Iraque. E o Haiti não é aqui, como canta Caetano. Está como se vê. E a maior parte dos países do resto do mundo são números.
Levadas demasiado a sério, todas as religiões são perigosas.
Ora, e por cá, no país da náusea resumido pelo Monde? Os lusitanos um pouco mais esclarecidos que a média da turba ensaduichada entre doses maciças de futebol, shoppings, trabalho, stress, ansiolíticos, dívidas, mortes na estrada, novelas e tinto, têm razões para estar preocupados. O país não está a andar para trás: anda a dar coices na razão e marradas portentosas no futuro, mostrando que a ideia de evolução, no sentido do progresso civilizacional, não é um dado adquirido. Bem pelo contrário.
Portas, líder de Durão Barroso e dos neo-conservadores de sacristia, reza todos os dias à Virgem Santíssima, enquanto o resto dos beatos do governo e seus devotos acólitos fazem o que podem pelo regresso de «Deus, pátria e família» e, já agora, do império. As livrarias, até as livrarias, destacam nas montras livros com títulos arrepiantes que falam, garbosamente, de antigos «soldados do Império». Convenhamos que a coisa ainda é pior quando destacam livros do Mourinho. Enfim.
Se o país der rédea solta a esta gente anacrónica, saudosista e ferozmente intolerante que se esconde por trás do manto cristão da bondade das intenções, totalmente incapaz de entender as complexidades, as fragmentações e as mutações próprias das sociedades contemporâneas, não tarda nada e teremos de volta clones do cardeal Cerejeira a todas as estruturas de poder. Nessa altura, valha-nos Deus!