maio 19, 2008

Stalker

Em 1982, Stalker venceu o Prémio do Júri Ecuménico de Cannes. Que lugar teria hoje um filme destes - denso, complexo, rigoroso, lento, longo, poético, angustiante, "existencial", belo - num festival onde se passeiam Mike Tyson e Angelina Jolie?
E onde cabe hoje o cinema de Tarkovski no nosso país? Tirando a Cinemateca e uns poucos resistentes cineclubes, em quase lado nenhum. O lado nenhum jaz soterrado em toneladas de pipocas.

Quem, onde, como se cultiva e desenvolve hoje o gosto pelas cinematografias de autor? Como fazer chegar às novas gerações, "educadas" a doses cavalares de detritos mercantis com o carimbo de Hollywood, um outro cinema? Missão Impossível.

Escrever sobre o assombroso Stalker, que nos surge sob nova luz a cada revisão, dava um tese de mestrado. Valha-nos a simplicidade do próprio Tarkovski. Citação retirada do seu livro Esculpir o Tempo:

«Em Stalker, faço uma espécie de afirmação cabal: isto é, a de que basta o amor pela humanidade - milagrosamente - para provar que é falsa a suposição grosseira de que não há esperança para o mundo. Este sentimento é o nosso maior valor comum e indiscutivelmente positivo. Apesar de já quase não sabermos amar...».