abril 13, 2008

Noite na Terra

As personagens principais de Noite na Terra são actores secundários na vida. Giram no lado B da sociedade. Vivem e sonham acordados enquanto as cidades dormem. Jarmusch gosta delas (e nós, no final do filme, vamos pelo mesmo caminho). Entrega-lhes o palco principal. Leva-nos a ver com outros olhos os desafortunados, como, aliás, já fizera em Vencidos pela Lei.

Cinco cidades, cinco taxistas. O sonho da taxista de Los Angeles (Winona Ryder) é ser mecânica de automóveis, tal como os seus irmãos. Mesmo quando lhe oferecem de bandeja a possibilidade de ser actriz de cinema em Hollywood.

O taxista de Nova Iorque é um alemão de leste (Armin Mueller-Stahl), um ex-palhaço. Pega pela primeira vez no táxi e mal sabe conduzir. Está-se a marimbar para dinheiro. Vê felicidade nas coisas mais simples. Diverte-se como uma criança, ingénuo numa cidade ameaçadora.

O taxista de Paris é um negro que apenas quer ser respeitado. A sua passageira da noite, que lhe vai desfazer alguns preconceitos, é cega, diz que vai ao cinema para "sentir os filmes" (lindo) e passeia-se junto ao Sena, madrugada fora.

O de Roma é um total passado dos carretos encarnado por Roberto Benigni (só podia ser ele). O padre que leva atrás acaba por ter um ataque cardíaco fatal, ajudado por uma confissão do taxista sobre as suas primeiras experiências sexuais, que haviam envolvido uma abóbora e uma ovelha chamada Lola...

O taxista de Helsínquia tem uma história deprimente para contar a um grupo de amigos bêbados e falhados que lhe entra no táxi, numa noite gélida de neve. O filme acaba aqui, simbólica e melancolicamente, no amanhecer ressacado de um novo dia.

Tom Waits, aquele que canta que o piano é que andou a beber, não ele, toma conta da banda sonora: