Deste rosto sai uma voz do outro mundo. E digo isto quase literalmente. Etérea, profunda, mística, planante. Do passado? Do futuro? Talvez intemporal.
Chama-se Lisa Gerrard. Quem viu filmes como O Gladiador ou O Informador não estranhará tanto a sonoridade desta australiana que grava os seus discos mágicos no seu estúdio caseiro na Austrália rural.
Gerrard, que vem dos fabulosos Dead Can Dance, mistura muita coisa boa para os melhores ouvidos: Haendel, música iraniana, folk, ambiências mediterrânicas, asiáticas, árabes.
Aqui e ali, namora o canto gregoriano. Nos seus dois primeiros álbuns a solo, The Mirror Pool e Duality, há passagens que nos remetem, por exemplo, para a voz da soprano Montserrat Figueras, no magnífico El Cant de la Sibil-La (1400-1560), da editora AliaVox, de Jordi Savall.
Quando ouvida sem pruridos puristas ou limitações de casta musical, Gerrard é uma delícia absoluta. A luz de um bom par de velas é, por razões óbvias, um complemento indispensável à fruição melómana.