fevereiro 25, 2005

Desastre à vista

Não augura nada de bom a anunciada negociata da venda dos media da Lusomundo ao dono da Olivedesportos. Entregar títulos da envergadura do JN, DN, Grande Reportagem e TSF a alguém que fez fortuna nessa autêntica escola do crime que é o mundo do futebol é, no mínimo, uma enorme irresponsabilidade política e social.

A PT, por manifesta falta de competência e de conhecimento das especificidades do negócio dos media, em geral, e do jornalismo, em particular, cometeu erros de palmatória ao longo dos últimos anos. A gestão do "caso DN" fica como símbolo maior dessa incompetência, em parte determinada pela interferência descarada e nociva do governo.

Agora, o que os media da Lusomundo menos precisavam neste momento era de um pára-quedista futeboleiro endinheirado para lhes tratar da vida. A PT hipotecou muita da credibilidade dos antigos media do coronel Silva, pelo que o que estes precisavam mesmo era, por exemplo, de uns espanhóis com o peso e o prestígio do grupo Prisa, proprietário do maior diário do país vizinho, El Pais.

Augusto Santos Silva, pessoa avisada, já torceu o nariz ao anunciado negócio com a Olivedesportos. Este dirigente socialista, que também está preocupado com a concentração dos media, diz, e bem, que «o negócio da comunicação social tem especificidades, pelo que os grupos proprietários devem estar interessados e qualificados para este negócio.»

A pressa com que os administradores da PT, cuja única e exclusiva preocupação parece ser financeira, estão a fazer o negócio também levanta algumas dúvidas. Convém ficar de pé atrás. Esperemos que o novo governo de Sócrates não se deixe enganar por estes espertalhaços de meia tigela.