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No começo, Julien revela-se a personagem mais intrigante. Relojoeiro, quarentão, pacato, sozinho. Faz chantagem com uma mulher de negócios, que se dedica a vender tecidos orientais falsificados. Até que entra Marie.
Ela regressa (tinham-se conhecido no passado) de forma inesperada e confusa. Instala-se, sempre misteriosa, no dia-a-dia feito de precisões mecânicas e rodas dentadas dos relógios de Julien. E o amor acontece. A morte também.
E Rivette fecha com uma ressurreição impossível. Só possível no simbolismo da força do amor e do cinema. É uma tese dupla, a do realizador francês: Marie morre por desamor desesperado de um homem e regressa à vida por amor imenso a um outro.
Não é fácil filmar isto de forma convincente. Rivette fá-lo de forma magistral. E o filme fica-nos a reverberar por muito tempo. Como um terramoto, História de Marie e Julien não se faz ouvir muito alto. Mas tem um efeito arrebatador.