março 26, 2008

Sobre materialistas invejosos e "autistas digitais"

Dois livros para ler, logo que a disponibilidade de tempo o permita: Affluenza, de Oliver James, e O Mundo Digital, de Vittorino Andreoli. Ambos tratam temas relativamente novos, pertinentes para o entendimento das sociedades contemporâneas. À partida, não parecem ser livros tranquilizadores. Mas, não são os livros do desassossego os melhores?

O primeiro: «Actualmente, há uma epidemia de affluenza em todo o mundo – uma obsessiva e invejosa vontade de ter o que os outros têm – que causou incríveis aumentos de depressão e ansiedade a milhões de pessoas. Ao longo de nove meses, Oliver James viajou pelo mundo para tentar perceber porquê. Descobriu como, apesar das diferentes culturas e níveis de vida, a affluenza se está a propagar.

Visitou cidades como Sydney, Singapura, Moscovo, Copenhaga, Nova Iorque e Xangai e em cada uma delas entrevistou várias pessoas na esperança de perceber a razão deste fenómeno e como podemos aumentar a força do nosso sistema imunitário emocional. Porque é que tantas pessoas querem ter o que não têm e ser quem não são, apesar de serem mais ricas e mais libertas de limitações tradicionais? A resposta a esta pergunta revela como recuperar a ligação ao que realmente interessa e aprender a valorizar o que já se tem.» (Civilização Editora)

O segundo, escrito por um psiquiatra, é resumido assim: «Dentro destas cada vez mais pequenas máquinas digitais estão contidas infinitas possibilidades de comunicar, informar-se, realizar um negócio, ouvir a nossa música favorita ou até mesmo… namorar – tudo isto em tempo real!

É tipicamente o caso do telemóvel, considerado o expoente máximo da tecnologia digital pelo autor, um psiquiatra italiano, que analisa os múltiplos aspectos da inquietante relação entre o ser humano e o seu telemóvel. Sem pôr de parte as oportunidades que o mundo digital nos proporciona, Andreoli alerta para os perigos da perda dos laços afectivos saudáveis com a vida real, sobretudo para os adolescentes que correm o risco de fechar-se num mundo formatado, como verdadeiros «autistas digitais». (Editorial Presença).



Livros lidos recentemente recomendados pelo Travessias:
Deus não é Grande - Como a Religião Envenena Tudo, de Christopher Hitchens
A Felicidade Paradoxal - Ensaio sobre a Sociedade do Hiperconsumo, de Gilles Lipovestky
Amor Líquido - Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos, de Zygmunt Bauman
O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire