Em Bom Dia, Noite, Marco Bellocchio mergulha, em jeito de teatro filmado, na intimidade de um dos episódios mais tristes da Itália dos anos 70: o rapto e assassínio do ex-primeiro-ministro Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas.
Bellocchio dá-nos a ver um Moro em cativeiro profundamente humanista e cristão, ao mesmo tempo que pinta com tintas fortes, quase caricaturais, o argumentário básico das utopias revolucionárias dos brigadistas, para quem os mais "altos interesses" do proletariado justificavam qualquer morte ou assassínio.
Chiara - afinal, a personagem principal - é a única que ao longo do filme desliza das cegas certezas revolucionárias, que extrai de leituras de Marx e Engels, para o degelo da dúvida e da sensibilidade. Vemo-la chorar quando ouve Moro ler uma carta em voz alta. Diz que é de raiva, mas nós, deste lado do ecrã, sabemos que está a mentir.
Num sonho final, Chiara liberta Moro, enquanto os restantes membros das Brigadas dormem. Vemos Moro a passear na rua, com um ar de quem vai partir de novo para a vida. Mas, como se sabe, o fim foi de pesadelo.
O filme, escrito pelo próprio realizador, ganhou o prémio de melhor contribuição artística individual pelo argumento no Festival de Veneza, em 2003. O melhor da música dos Pink Floyd lá aparece como banda sonora.
O filme, escrito pelo próprio realizador, ganhou o prémio de melhor contribuição artística individual pelo argumento no Festival de Veneza, em 2003. O melhor da música dos Pink Floyd lá aparece como banda sonora.