setembro 25, 2006

Chostakovitch não é 'fashion'

Se os nossos canais de televisão não estivessem tão embrutecidos como, de facto, estão, seria de esperar que hoje, dia em que se assinala um século sobre o nascimento do compositor russo Dmitri Chostakovitch, considerado um dos maiores compositores do século XX, exibissem algum programa, filme ou concerto a propósito.

A RTP, por exemplo, lá nas catacumbas dos arquivos, ainda deve ter a cópia de um filme, realizado por Tony Palmer, sobre a vida de Chostakovitch. No papel principal, temos um muito convincente Ben Kingsley.

O canal estatal passou esta obra, cujo título original é Testimony, há muitos anos. Ficaram-me da obra boas recordações e uma grande vontade de descobrir a música de Chostakovitch. Não seria a noite de hoje excelente altura para uma reposição?

Qual quê... Temos, depois da meia-noite, E-Ring Centro de Comando, na RTP1, e a história de um elefante, na 2:. Nas privadas, nem, vale a pena falar. As noites estão entregues à bicharada.

Ontem, no Público, um bom trabalho sobre a efeméride. Hoje de tarde, na Antena 2, o destaque devido, e conhecedor, a Dmitri Chostakovitch.


setembro 13, 2006

A face dos caídos

Bagdad está hoje a ferro e fogo. 60 corpos foram encontrados com sinais de tortura e quase 30 pessoas morreram num ataque contra a polícia. Para a generalidade dos ciberjornais portugueses, isto não está a ser notícia até agora (meio da tarde). Mas no Le Monde.fr, no New York Times ou no washingtonpost.com está.

No Post, vale a pena espreitar o trabalho Faces of the Fallen sobre todos os soldados norte-americanos mortos até agora no Afeganistão e no Iraque. São 2984. O jornal criou um registo com dados relativos a cada um deles.

Aviso: conteúdo verdadeiramente indigesto para neocons.

setembro 12, 2006

'Geração blogue' em livro

Foi publicado há pouco tempo por cá, pela Editorial Presença. O título escolhido, Geração Blogue, não é brilhante, mas Giuseppe Granieri parece agarrar no tema de uma maneira interessante. Pelo menos, é a impressão com que se fica depois de uma primeira e rápida vista de olhos.

Para já, aqui fica a sinopse:

«Apesar de ser um fenómeno relativamente recente, em poucos anos os blogues conheceram uma difusão extremamente célere na Rede, impondo-se como um novo modelo de comunicação que põe diariamente em contacto e em confronto pessoas e ideias, transformando a Internet numa imensa infra-estrutura de discussão, e criando uma comunidade cuja única regra é a relação. Partindo destas características, Giuseppe Granieri procura responder a questões que relacionam os blogues, a informação, os media, a política e a democracia, e as regras que gerem e filtram todo este enorme ecossistema. Sustentado por exemplos concretos e actuais, este é um livro indispensável para compreender e acompanhar a revolução que os blogues estão a operar, em tempo real, no nosso quotidiano e que desafia a nossa visão do papel das novas tecnologias na sociedade num futuro não muito distante.»

setembro 03, 2006

De olhares: um rapaz de Plutão

Dizia-nos o empregado da Blockbuster que este era o melhor filme do mês. Só que ninguém o alugava... E, de facto, as cópias lá estavam todas quietas na prateleira.

Breakfast on Pluto é uma história excêntrica, o que por si só é já um bom começo. A personagem principal mais excêntrica e "fora" é. Um rapaz que nasceu, fruto do "pecado" entre um padre e a sua empregada, para ser "ela" e não "ele", o que nos remete para aquela música do Antony em que ele canta o dilema: «today I am a boy, today I am a girl». A interpretação de Cillian Murphy no papel principal é muito bem conseguida.

Abandonado à nascença pela mãe, Patrick cresceu e passou a vida aos tombos na Irlanda conservadora e dividida dos anos 70, impreparada para tanto devaneio de identidade. Pano de fundo pesado: o IRA e as suas vítimas.

Neil Jordan, o realizador, cozinha tudo isto, em termos narrativos, de modo relativamente convencional. Mas é convincente ao recuperar o ambiente "glam" da década de 70. O filme está, aliás, recheado de músicas da altura, como Sugar Baby Love, dos The Rubettes logo a abrir, em registo vivamente revivalista.

Dito isto, gostei muito mais do trabalho que Jordan fez, por exemplo, em Entrevista com o Vampiro. De qualquer modo, passa-se um bom bocado com este 'pequeno-almoço em Plutão'.


Filmes similares recomendados pelo Travessias:
Jogo de Lágrimas, de Neil Jordan
Velvet Goldmine, de Todd Haynes
Priscilla, Rainha do Deserto, de Stephan Elliott
Tudo Sobre a Minha Mãe, de Pedro Almodóvar
20 Centímetros, de Ramón Salazar
Madame Satã, de Karin Aïnouz