março 31, 2008

"Les femmes qui lisent sont dangereuses"

Cannes
© Helder Bastos
Cannes, 2007

março 26, 2008

Sobre materialistas invejosos e "autistas digitais"

Dois livros para ler, logo que a disponibilidade de tempo o permita: Affluenza, de Oliver James, e O Mundo Digital, de Vittorino Andreoli. Ambos tratam temas relativamente novos, pertinentes para o entendimento das sociedades contemporâneas. À partida, não parecem ser livros tranquilizadores. Mas, não são os livros do desassossego os melhores?

O primeiro: «Actualmente, há uma epidemia de affluenza em todo o mundo – uma obsessiva e invejosa vontade de ter o que os outros têm – que causou incríveis aumentos de depressão e ansiedade a milhões de pessoas. Ao longo de nove meses, Oliver James viajou pelo mundo para tentar perceber porquê. Descobriu como, apesar das diferentes culturas e níveis de vida, a affluenza se está a propagar.

Visitou cidades como Sydney, Singapura, Moscovo, Copenhaga, Nova Iorque e Xangai e em cada uma delas entrevistou várias pessoas na esperança de perceber a razão deste fenómeno e como podemos aumentar a força do nosso sistema imunitário emocional. Porque é que tantas pessoas querem ter o que não têm e ser quem não são, apesar de serem mais ricas e mais libertas de limitações tradicionais? A resposta a esta pergunta revela como recuperar a ligação ao que realmente interessa e aprender a valorizar o que já se tem.» (Civilização Editora)

O segundo, escrito por um psiquiatra, é resumido assim: «Dentro destas cada vez mais pequenas máquinas digitais estão contidas infinitas possibilidades de comunicar, informar-se, realizar um negócio, ouvir a nossa música favorita ou até mesmo… namorar – tudo isto em tempo real!

É tipicamente o caso do telemóvel, considerado o expoente máximo da tecnologia digital pelo autor, um psiquiatra italiano, que analisa os múltiplos aspectos da inquietante relação entre o ser humano e o seu telemóvel. Sem pôr de parte as oportunidades que o mundo digital nos proporciona, Andreoli alerta para os perigos da perda dos laços afectivos saudáveis com a vida real, sobretudo para os adolescentes que correm o risco de fechar-se num mundo formatado, como verdadeiros «autistas digitais». (Editorial Presença).



Livros lidos recentemente recomendados pelo Travessias:
Deus não é Grande - Como a Religião Envenena Tudo, de Christopher Hitchens
A Felicidade Paradoxal - Ensaio sobre a Sociedade do Hiperconsumo, de Gilles Lipovestky
Amor Líquido - Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos, de Zygmunt Bauman
O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire


março 19, 2008

Antony para dançar


Há três anos, no final de um concerto em Madrid, Antony virou-se para a assistência e desabafou: «Estou tão contente que me apetecia poder cantar uma canção alegre para comemorar... mas não tenho nenhuma.» Agora já tem.

Antony, dono de um belo repertório de canções tristes e melancólicas, deu uma guinada dançável. Juntou-se ao projecto do norte-americano Andrew Butler, Hercules & Love Affair, para dar voz a temas que parecem saídos das pistas de dança dos anos 80, com disco sound, tipo Village People, à mistura. Uma delícia de leveza retro.

março 16, 2008

Casa no céu

Casa da Música
© Helder Bastos
Porto, 2007

março 09, 2008

Um bom livro...

«Muitos homens constituem um fardo para o mundo; mas um bom livro é a encarnação preciosa de um espírito superior, conservado e estimado com o objectivo de viver para além da morte.»

John Milton (1608-1674)

março 01, 2008

Venha daí o Barton Fink


Agora que os irmãos Coen estão na berra por causa dos Oscars e do seu último filme, talvez fosse uma boa oportunidade para as editoras se lembrarem de editar por cá em DVD aquele que é, para mim, a melhor obra deles: Barton Fink. Sobre este filme, recupero (agora com vídeos...) uma entrada anterior do Travessias:

«Barton Fink é, enigmaticamente, um grande filme. Talvez o melhor dos irmãos Coen. Bem escrito (por eles mesmos), apresenta um grupo de actores de grande calibre, a começar pelo inimitável peso pesado John Goodman e a acabar em John Turturro, numa composição primorosa, a lembrar um pouco o estilo de algumas personagens esquizofrénicas de Cronenberg.

O canal Hollywood exibiu-o, em boa hora, há poucos dias. Em Barton Fink, datado de 1991, ano em que ganhou a Palma de Ouro, todas as personagens são um pouco grotescas, exageradas, distorcidas, movendo-se no limiar da normalidade, limiar esse gerido sempre com grande mestria.

Aqui e ali, os Coen entregam-nas à surrealidade, à «vida na mente», como na cena em que Goodman, gritando precisamente «eu mostro-vos a vida da mente!», corre pelo corredor de um hotel sinistro fora deixando atrás de si paredes em fogo e disparando a caçadeira contra dois detectives.


O facto de o filme ser de difícil catalogação só o torna mais interessante. O enredo deixa muitas pontas por resolver. Não dá, como nos filmes banais, todas as respostas, de forma óbvia e sem ambiguidades. Aquela caixa amarrada com cordel tinha mesmo a cabeça da secretária/amante de um escritor alcoólico que trabalhava em Hollywood?

Foi um prazer imenso rever Barton Fink, obra em que, como escreve Hal Herickson, no All Movie Guide, nada é o que parece e nada resulta como o planeado. Dele guardava algumas imagens marcantes, como a do corredor em chamas e uma outra, em que um poderoso produtor de filmes de Hollywood (mais tarde promovido a general), espumando de ira, à beira da loucura, exigia a um funcionário seu que beijasse os pés do incomodado escritor da Broadway... Fink.» (26.06.2005)