fevereiro 24, 2008

Fotograma: Vivian Wu

Vivian Wu fotografada no filme O Livro de Cabeceira, de Peter Greenaway.

fevereiro 15, 2008

Gavin Bryars, Tom Waits e um vagabundo

Uma das coisas que mais gozo dá no YouTube é encontrar peças raras, vídeos que nunca vimos, nem tão pouco sabíamos que existiam. É o caso deste Jesus' Blood Never Failed Me Yet, do compositor britânico Gavin Bryars.

Composta em 1971, a peça foi sendo regravada e aumentada ao longo dos anos. Nesta versão, podemos ouvir duas vozes: uma é a de um vagabundo das ruas de Londres; a outra é de Tom Waits (um dos músicos "residentes" do Travessias), cujo empenho em experimentar novas sonoridades se tem, felizmente, confirmado ao longo da sua carreira.

Gavin Bryars, nascido no Yorkshire, em 1943, começou por estudar filosofia e só depois música (um dos seus bons álbuns chama-se, curiosamente, Farewell to Philosophy). Compõe e toca contrabaixo. A sua extensa discografia começa em 1971.

Os trabalhos de Bryars cruzam diversos estilos musicais, incluindo jazz, improvisação, minimalismo, música experimental e de câmara, avant-garde, neoclassicismo e ambiente. Talvez por isso não passe em televisões e rádios de massa. É pena.

(dica de Naná)

fevereiro 08, 2008

fevereiro 07, 2008

Os que nos fumam para cima

No meio do bacanal de disparates, imbecilidades e absolutas irresponsabilidades públicas que muito ilustre colunista tem assinado nos mais respeitados jornais do país a propósito da lei do tabaco, é reconfortante ler alguém com um rasgo certeiro de lucidez mínima:

«Sou contra todos os fundamentalismos. E acho inaceitáveis algumas regras que nos querem impor. Cada um deve poder fazer o que lhe apetece, se não interferir com os outros. Mas, quanto à lei do tabaco, tenham juízo! E decoro, os que nos fumam para cima.»

José Carlos Vasconcelos, Visão, 07-02-2008

fevereiro 05, 2008

Vem e Vê o verdadeiro horror

Quando o filme foi estreado, nalgumas salas europeias foi preciso chamar a emergência médica para auxiliar espectadores que se sentiram mal durante a projecção. Em Vem e Vê, mais do que explícita, a violência, sobretudo de ordem psicológica, é latente, persistente e sufocante. Não obstante, no meio do horror da história, Elem Klimov oferece-nos, combinadas com uma banda sonora arrepiante, imagens cinematográficas de rara beleza.

Durante a II Guerra Mundial, 628 aldeias da Bielorússia foram incendiadas e a sua população queimada viva ou fuzilada pelos nazis. É esta a história, verídica, que Klimov nos conta.

Diz o realizador, numa introdução ao filme (um dos extras do DVD, recentemente lançado em Portugal pela Midas Filmes), que tinha de contar esta história, mesmo que ninguém a fosse ver. Porque ele próprio, natural de Estalinegrado, teve de fugir à perseguição das animalescas SS.

A obra, de 1985, acabaria por ter uma enorme repercussão internacional. Venceu o Grande Prémio Moscovo desse ano. Vem e Vê também passou pelo Cineclube do Porto, mas, enfim, nessa altura, ainda se via cinema fora de casa na Invicta. Hoje, como se sabe, o Porto é um belo necrotério cinéfilo.

Como nota a Midas na sinopse, o herói de Vem e Vê é Florya, um adolescente de 16 anos. Se no início é um rapazinho como tantos outros da sua idade, à medida que ele vai conhecendo o horror das execuções perpetradas pelos nazis, a sua cara vai-se transfigurando e envelhecendo. As transformações no seu rosto são o espelho do rosto da guerra.

A última cena do filme, ao som do requiem de Mozart, é absolutamente memorável. Com o rosto transfigurado e encarquilhado, Florya dispara consecutivamente sobre uma fotografia de Hitler no chão. A cada disparo, imagens reais do ditador e da Alemanha no período nazi surgem a andar para trás, como se Florya quisesse fazer recuar o relógio do tempo. Até aparecer uma foto de Hitler bebé ao colo da mãe. Florya não dispara.