junho 28, 2007

junho 26, 2007

Fotograma: Maria Callas

Maria Callas fotografada por Ennio Guarnieri no filme Medeia, de Pier Paolo Pasolini.


junho 23, 2007

Philip Glass por estas bandas sonoras

Philip Glass actua hoje no CCB, em Lisboa, e amanhã, na nova meca dos melómanos do norte, o Theatro Circo, em Braga. Lá estaremos, como é evidente.

Glass tem 70 anos e uma obra imensa e diversificada. É considerado, a par de Steve Reich, Terry Reily e John Adams, uma das figuras mais proeminentes da chamada escola minimalista.

O piano de Glass já entrou, muitas vezes discretamente, por muitos ouvidos adentro nas salas de cinema, em filmes como The Truman Show, As Horas, Kundun ou Mishima. Talvez tenha sido, para muita gente, o primeiro e único contacto com a música deste compositor norte-americano.

Aliás, neste excerto do Truman Show, é ele mesmo que vemos a tocar ao piano:

Outra área que tem atraído Glass é o multimédia, como podemos ver nesta vídeo-instalação produzida para o drama musical em três partes (peça, dança e concerto) The Photographer:


Uma das mais recentes bandas sonoras que produziu foi a do filme Diário de um Escândalo, estreado há pouco tempo em Portugal. Neste vídeo, o próprio Glass explica como foi o processo de composição:

junho 21, 2007

Introdução a 40 anos de Leonard Cohen

Leonard Cohen anda há quase 40 anos na vida dos discos. Continua a ser um dos mais «fascinantes e enigmáticos» poetas/cantores/compositores vivos. Tem uma obra monumental, este canadiano. Impossível de resumir num qualquer post blogueiro.

Há não muito tempo, lembraram-se de lhe prestar homenagem em forma de documentário. Entregaram a realização a Lian Lunson. Para quem não conhece ou conhece mal Cohen, o DVD, I'm your man, é uma excelente introdução:



Podemos ver e escutar o compositor, que chegou a ser monge budista, no difícil exercício de se explicar um pouco melhor a si próprio, enquanto homem e artista, mas também o podemos ouvir a cantar ao lado dos U2. Como se isso não bastasse, entram em palco músicos como Rufus Wainwright, Nick Cave, Antony, Jarvis Cocker e Beth Orton para dar uma nova roupagem a temas clássicos, inesquecíveis, de Cohen.

Um deles, If it be your will, fica arrasador na voz de Antony:

junho 19, 2007

Já ninguém escuta

«Há uma desordem mental muito arreigada, uma reconhecida doença mental chamada «síndrome de Jerusalém»: uma pessoa chega, inala o ar puro e maravilhoso da montanha e, de repente, inflama-se e pega fogo a uma mesquita, a uma igreja ou a uma sinagoga. Ou, então, tira a roupa, sobe a um rochedo e começa a fazer profecias. Já ninguém escuta.»

«O século XX parece ter dado mostras excelentes neste sentido. Por um lado, os regimes totalitários, as ideologias mortíferas, o chauvinismo agressivo, as formas violentas de fundamentalismo religioso. Por outro, a idolatria universal de uma Madonna ou de um Maradona. Talvez o pior aspecto da globalização seja a infantilização do género humano - «o jardim de infância global», cheio de brinquedos e adereços, rebuçados e chupa-chupas.»

«A essência do fanatismo reside no desejo de obrigar os outros a mudar. Nessa tendência tão comum de melhorar o vizinho, de corrigir a esposa, de fazer o filho engenheiro ou de endireitar o irmão, em vez de deixá-los ser. O fanático é uma das mais generosas criaturas. O fanático é um grande altruísta. Está mais interessado nos outros do que em si próprio. Quer salvar a nossa alma, redimir-nos.»

junho 14, 2007

Um brinde à Cat Power

Cat Power é uma espécie de Carla Bruni mal comportada. Tem boa figura, mas, por vezes, à custa do álcool, faz figura de ursa, sobretudo em palco.

No penúltimo concerto que deu em Portugal, Cat, conta quem lá esteve, desatou a insultar o público. Estava bêbada. No último concerto, pediu desculpa pelo feito. Estava sóbria.

Pinga à parte, esta norte-americana oferece-nos uma voz sedutora, embrulhada em canções atraentes, distribuídas por uma mão cheia de álbuns, que têm passado olimpicamente ao lado dos "media" mainstream.

Cat tem-se movido nas margens, mas suspeito que esses dias estão contados: ela canta no novo filme de Wong Kar-wai e acaba de vencer, com o álbum The Greatest, a edição 2007 do Shortlist Music Prize.

Um brinde à Cat Power.

junho 13, 2007

Citando Lennon

«Amo a liberdade. Por isso, deixo as coisas que amo livres. Se elas voltarem, é porque as possuí, se não voltarem, é por que nunca as tive.»

junho 11, 2007

Videograma: Nanni e as minorias


É um momento delicioso de cinema. Nanni pára num semáforo, desmonta da sua Vespa e tenta explicar a um jovem de Mercedes descapotável, notoriamente pouco dotado para ouvir esta pequena explanação político-existencial, que acredita nas pessoas: só não acredita na maioria das pessoas. «Mesmo numa sociedade mais decente do que esta, estarei sempre do lado de uma minoria de pessoas.»

junho 08, 2007

Retratos do planeta humano

O projecto chama-se 6 Bilion Others e começou em 2003. A ideia do seu mentor, Yann Arthus-Bertrand, é, através da recolha de depoimentos de pessoas nos quatro cantos do mundo, «criar um sensível e humano retrato dos habitantes do planeta».

A seis mil pessoas de 65 países são feitas perguntas como: que é a felicidade? Que lições podemos tirar das dificuldades da vida? Qual o significado da vida?

A ideia, só por si, é fabulosa. Mas a concretização é igualmente fantástica, também do ponto de vista técnico e de narrativa.

Porque a surdez entre povos e pessoas parece ser cada vez mais gritante, ouçamos então um pouco melhor o que o nosso planeta nos tem para dizer.

junho 05, 2007

E Putin? Gostará dos seus filhos?

Estas notícias começam a inquietar. Já aparecem com destaque nas primeiras páginas dos jornais: «O Presidente Putin ameaçara voltar a apontar mísseis balísticos a alvos europeus se os Estados Unidos não desistirem de instalar mísseis interceptores na Polónia. Declarações que para o Reino Unido deixaram toda a Europa inquieta.»

Retórica de "guerra fria". Estão de volta os fantasmas da "Destruição Mútua Assegurada". E o homem volta a exibir, em todo o seu trágico esplendor, a inclinação bruta para a estupidez.

Sting precisa de actualizar "Russians", uma canção que começa assim:

«In europe and america,
there's a growing feeling of hysteria
Conditioned to respond to all the threats
In the rhetorical speeches of the soviets
»

Os cenários repetem-se. Mudaram os actores. Será que Putin gosta dos seus filhos?

junho 04, 2007

Lipovestsky e a felicidade

Algumas ideias, em formato de citação, a reter do texto publicado no último sábado, no Público, a propósito de uma conferência de Gilles Lipovestsky em Lisboa. Sobre a "busca da felicidade":

«Hoje em dia, somos livres de escolher as nossas actividades de lazer, mas estamos cada vez mais sob o império da oferta comercial. Somos livres ao nível dos pormenores, mas o mercado ganhou um poder sem precedentes na vida de cada um e sobre a maneira de concebermos a felicidade em termos de dia-a-dia. Neste dilúvio de convites a desfrutar da vida, a distância entre a felicidade que nos é prometida e o real, o quotidiano, é cada vez maior. E essa glorificação da felicidade provoca problemas existenciais.»

«Abandonado a si próprio, numa sociedade hiper-individualista, o indivíduo hiper-moderno é frágil.»

«Mas só uma outra paixão poderá permitir reduzir a paixão consumista; temos de inventar uma pedagogia, uma política das paixões, capaz de mobilizar os afectos fora do consumível, da compra: no trabalho, no desejo, na criação, na arte. Temos de criar uma ecologia mais equilibrada da existência.»

«A felicidade foge obstinadamente ao controlo humano. É ilusório pensar que podemos construir a felicidade.»


P.S. post escrito ao som de Snow Abides, de Michael Cashmore.

junho 02, 2007

A pequena Annie

Annie Bandez, Annie Anxiety, Little Annie. Três nomes para a mesma artista. Chega-nos de Nova Iorque, pela mão de Antony (sim, o "nosso" Antony...). Annie é pintora, escritora, dançarina, artista de spoken word, actriz (apareceu em vários filmes e peças). Na música, abraça avant-garde, hip-hop, rap, punk, electrónica, reggae e rock. Já lhe chamaram "diva punk do cabaret pós-moderno"...


O seu último álbum, Songs from de coal mine canary, é produzido por outra pérola que emergiu do submundo artístico nova-iorquino, Antony (dos Antony and the Johnsons). "Rock cabaret" talvez sintetize bem a ambiência deste conjunto magnífico de canções. Com estes ingredientes, Annie, que em Março passado passou por Serralves, no Porto, não nos dá qualquer hipótese de fuga. Para ouvir e descobrir. Com carácter de urgência.