maio 31, 2006

Esfaimados deputados

Depois da "balda da Páscoa", a "fominha do Mundial":

«Os cinco partidos com assento parlamentar acordaram ontem alterar a ordem de trabalhos da Assembleia da República, no próximo dia 21 de Junho, de forma a que a discussão plenária não coincida com a hora do jogo Portugal-México, a contar para o Mundial. A decisão, em conferência de líderes foi tomada por consenso, merecendo também a concordância do presidente da AR, Jaime Gama.» (DN)

A sorte destes esfaimados de bola, portentosos no tiro no pé parlamentar, é que estamos em Portugal. Já ninguém leva a mal...

maio 22, 2006

De olhares: Mitterrand e o jornalista

É um passeio pela história pessoal e política de François Mitterrand, mas é também a história de um jovem jornalista confrontado com a tarefa esmagadora de escrever as memórias daquele que foi uma das maiores figuras da história da França do século XX.

Donde, Uma Viagem pela história, realizado por Robert Guédiguian, pode ser visto através de dois ângulos, ambos estimulantes: o político e o jornalístico.

De Mitterrand, o essencial é mostrado ou sugerido ao longo do filme: o passado político rico e nebuloso, a filha "clandestina", a personalidade forte e culta, a luta política feroz, incluindo com a sua própria família política, etc..

Já o jovem jornalista, empregado numa revista, é uma personagem hesitante, assustada e indecisa perante a figura do presidente da República. A tarefa de o biografar absorve-o de tal modo que acaba por se divorciar. Oscila entre o deslumbramento pela figura de Mitterrand e o imperativo profissional de o confrontar com a "verdade", sobretudo em relação ao passado de alegadas ligações ao regime de Vichy.

O filme, ao contrário do que se poderia supor, não é esmagado pela figura de Mitterrand (interpretado, de forma brilhante, por Michel Bouquet). O realizador opta por dar espaço também à personagem do jornalista. E às suas contradições.

maio 18, 2006

De ouvido: Lisa Gerrard

Deste rosto sai uma voz do outro mundo. E digo isto quase literalmente. Etérea, profunda, mística, planante. Do passado? Do futuro? Talvez intemporal.

Chama-se Lisa Gerrard. Quem viu filmes como O Gladiador ou O Informador não estranhará tanto a sonoridade desta australiana que grava os seus discos mágicos no seu estúdio caseiro na Austrália rural.

Gerrard, que vem dos fabulosos Dead Can Dance, mistura muita coisa boa para os melhores ouvidos: Haendel, música iraniana, folk, ambiências mediterrânicas, asiáticas, árabes.

Aqui e ali, namora o canto gregoriano. Nos seus dois primeiros álbuns a solo, The Mirror Pool e Duality, há passagens que nos remetem, por exemplo, para a voz da soprano Montserrat Figueras, no magnífico El Cant de la Sibil-La (1400-1560), da editora AliaVox, de Jordi Savall.

Quando ouvida sem pruridos puristas ou limitações de casta musical, Gerrard é uma delícia absoluta. A luz de um bom par de velas é, por razões óbvias, um complemento indispensável à fruição melómana.

maio 12, 2006

De olhares: Caravaggio


















Chamamento de São Mateus
, 1602.

Watergates

Agora que o "Watergate francês", como lhe chama a imprensa, está ao rubro, mostrando a parte mais sórdida e sinistra da política contemporânea, é uma boa altura para revisitar Os Homens do Presidente.

Este filme, realizado por Alan J. Pakula, é um clássico absoluto na relação entre o jornalismo e o cinema e acaba, finalmente, de ser lançado em DVD no mercado português pela mão da Warner.

Um mergulho minucioso no jornalismo de investigação (o mais nobre, o mais desprezado...) e na podridão total do sistema na era Nixon.

E a história repete-se.

maio 01, 2006

Steiner e o anti-ensino

«Em termos estatísticos, o anti-ensino constitui praticamente a norma. Os bons professores - os que alimentam a chama nascente na alma do aluno - são talvez mais raros do que os músicos virtuosos ou os sábios.»

George Steiner, As Lições dos Mestres