novembro 24, 2005

Nostalgia de mil anos de interregno

A cegueira das religiões, tantas vezes confiscadas e deturpadas por medíocres intérpretes terrenos de textos "sagrados", não conhece limites.

No Irão, dois homens foram enforcados por terem mantido relações homossexuais. O tribunal que os condenou baseou-se na sharia, uma legislação que interpreta de forma extremista o Corão.

Do "lado de cá", o Vaticano, ao mesmo tempo que vai varrendo para debaixo da sotaina os sucessivos escândalos com padres-pedófilos, proíbe o acesso de homossexuais ao sacerdócio, acentuando deste modo a vertente conservadora perfilada pelo papa precedente.

Por vezes, do Oriente ao Ocidente, o tempo parece não querer passar. Medo das luzes da razão ou nostalgia da Idade Média?


A ler:
Irán ahorca a dos hombres por mantener relaciones homosexuales
O Vaticano reage ao cerco

E a seguir?

«O presidente norte-americano, George W. Bush, planeou bombardear a Al-Jazeera, estação de televisão árabe no seu aliado Qatar, revelou um memorando altamente secreto, citado pelo Daily Mirror». (DN).

O New York Times que se cuide...

novembro 20, 2005

Nyman e a fuga dos leitores

O Público de hoje rebenta duas páginas da secção de Cultura com a festa revivalista disco sound, de anteontem à noite, no Pavilhão Atlântico. O DN traz três notícias na secção de Artes (nenhuma delas referente a acontecimentos fora de Lisboa). O JN (edição online), na secção de Cultura, também não dá uma linha que seja sobre o concerto de Michael Nyman na Casa da Música, na sexta-feira à noite.

Nyman teve sala quase cheia. Deu-nos a ouvir trechos de bandas sonoras que compôs, por exemplo, para filmes do realizador Peter Greenaway. Na segunda parte do concerto, acompanhou a projecção do filme, a todos os títulos brilhante, O Homem da Câmara de Filmar, de Dziga Vertov. Não foi, por isso, apenas mais um concerto no Porto.

Os jornais "de Lisboa", já se sabe, borrifam-se em permanência intermitente para o que se passa no Porto e, em geral, no norte. Na área da cultura, então, são uma catástrofe permanente. O centralismo jornalístico, por muito que tentem disfarçar com uma côdeas atiradas ao norte de vez em quando, é uma realidade indesmentível. Já os jornais "do Porto", andam, no mínimo, a ver as bolas passar...

Ninguém está à espera que o 24 Horas escreva uma prosa de primeira água sobre Nyman. Mas, quer os jornais ditos de referência, quer os jornais "do Porto", têm obrigações particulares nesta área. E deviam perceber que há coisas que não podem falhar. Espantam-se, depois, com a fuga dos leitores?

novembro 15, 2005

Beatles pelos dedos de Frisell

Bill Frisell provou, no concerto de ontem à noite, na Casa da Música, que ainda nem tudo foi dito sobre a música dos Beatles.

Acompanhado apenas por uma violinista, de cabelos verdes, e um outro guitarrista, que se entretinha a fazer deslizar sons na sua slide guitar (fazendo lembrar Ry Cooder), Frisell fez uma interpretação muito própria, ao seu estilo inconfundível, de clássicos dos Beatles. E fê-lo de uma forma quase experimental. Os temas, às vezes, começavam por ser ruídos de sintetizador, para irem evoluindo em direcção aos acordes reconhecíveis de clássicos da eterna banda de Liverpool.

Foi um concerto agradabilíssimo. Excepto, talvez, para o rapaz corpulento que estava à minha frente e cuja cabeça tombava de sono, ora para esquerda, ora para a direita, quando Frisell entrava no terreno do susurro da guitarra.

novembro 12, 2005

Prenda de Natal: D. Quixote, de Welles

Talvez seja por causa da aproximação da época de filmes de Natal para as crianças. Talvez seja porque o mundo anda deprimido por causa do petróleo. Talvez seja porque os realizadores andem cansados de aturar produtores obtusos. Sei lá. O que é certo é que o cinema anda uma pasmaceira descomunal. Mas, ainda assim...

Temos um Orson Welles em cartaz. D. Quixote é uma grande prenda que a Atalanta nos dá.

novembro 09, 2005

Internet e mercado

«Apesar de as novas tecnologias terem grande potencial para a comunicação democrática, há poucas razões para esperar que a Internet sirva fins democráticos uma vez entregue ao mercado.» Edward Herman

novembro 02, 2005

Roger Waters: Ça Ira

Os media generalistas portugueses ainda não deram por isso (ou terei sido eu a não dar por isso nos media?), mas já está disponível em Portugal o último trabalho discográfico de Roger Waters. Nada menos que... uma ópera.

Intitula-se Ça Ira e transporta-nos no tempo para o período da Revolução Francesa. O disco é mesmo catalogado com frases como "história operática da Revolução Francesa", em três actos.

Para já, ouvi, apressadamente, excertos. É mesmo ópera, longe dos ambientes sonoros do fabuloso, inigualável, um dos melhores álbuns conceptuais de sempre, Amused to Death.

Depois de uma audição mais apurada, voltaremos a Ça Ira aqui no Travessias. Porque discos destes não são só para ouvir. São, sobretudo, para degustar.


A ouvir:
Entrevista de Roger Waters à NPR